Simplicíssimo

1001 – Décadance Avec Élégance (parte I)

Eu estava parado em frente a uma boate GLS sem coragem pra entrar. Meus dentes estavam amortecidos, a boca seca, o nariz trancado e eu só fui lá porque eu tinha um cartão promocional que me garantia entrar de graça até às duas e cuba a R$ 2,50. Terça-feira era dia de strip feminino. Era terça. Quarta blackout. Acabei entrando pra ajudar um travesti gordo a carregar suas malas pra dentro da bodega. Senti uma dor no estômago e lembrei que não havia ido ao banheiro durante o dia todo. Eu carregava mais merda na barriga do que dinheiro no bolso, melhor ir pra casa, pensei, ninguém vai aceitar trocar merda por bebida, a menos que o barman seja adepto ao scat.

O lugar era extremamente quente e abafado. Fui levado pela correnteza da multidão até o outro lado do clube, vi dois caras se beijando, encostei sem querer no pau de uma bicha, que me deu uma risadinha marota, levei uma enconxada de um negão, caí num sofá e decidi sair dali o mais rápido possível. Levantei, desviei a mesa de sinuca, dobrei à esquerda, vi uma ex-namorada minha, não a reconheci, reconheci, fingi que não vi, tomei gosto pela coisa e decidi ficar mais um pouco só para continuar fingindo que não a via. Ela se espantou ao me ver ali, eu, não me surpreendo com mais nada.

Uma loira começou a conversar comigo. Não sei de onde a conheço e ela parecia ter a mesma sensação quanto a mim, mas a conversa fluía, eu sabia tudo sobre ela mesmo sem ouvir o que ela falava, o som estava alto e eu só balançava a cabeça e fazia algumas expressões faciais. Ela disse que estava acompanhada, me mostrou sua garota dançando na pista, eu disse que ela poderia ter arranjado coisa melhor e ela me convidou para descer no banheiro masculino. Por algum milagre, o banheiro estava vazio, mas fedia a esperma. Esperma azedo, esperma fresco, esperma com purpurina, esperma com merda, esperma com sangue, com purpurina, esperma e maconha, esperma vencido, esperma alienígena, esperma com suor, com cuspe, esperma e decadência, cocaína e mijo e vômito. Graças a deus ela era cheirosa. Graças a deus ela usava um bom perfume e não era muito magra, o que significava que eu não sentiria aquele tesão incontrolável de comê-la ali mesmo e que abraçaria algo fofo. Tudo o que eu precisava era abraçar algo fofinho e cheiroso.

Mal durou a nossa diversão e bateram à porta. Ela mandou eu subir e disse que logo me encontrava lá em cima, eu saí, desviei das bixas, dobrei à direita e fui embora.

Rodrigo D.

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