Simplicíssimo

Rita, a Lésbica

Essa vai para o meu livro "Terapia de Casal para Homens Solteiros". Ou melhor, héteros. Héteros solteiros.

E tinha a Rita, a lésbica. Uns achavam que ela só estava seguindo a moda, outros diziam que era mal comida. Ela, se achava independente e dizia que não precisava de homem pra nada. Típico de mulher que não é capaz abrir o vidro de pepino em conserva. Não sei o que acontece com essa gente, querem todos os sexos ao mesmo tempo agora. Mulher não deveria fazer comercial de cerveja. Mulher era pra ser cheirosa, delicada, ingênua. O homem solteiro é peludo, coça o saco, cospe no chão, fala nome feio, bebe cerveja e faz queda de braço. Quando se apaixona, faz a barba, toma banho, passa perfume, fica educado e se afasta dos amigos. Homem sai pra caçar, enquanto a mulher fica em casa cuidando da casa e dos filhos. É assim desde o início dos tempos e eu não vejo porque mudar agora. Mulher tem útero, homem tem músculo. Não sou eu quem dita as regras por aqui, existem diferenças físicas e psicológicas entre homens e mulheres, não dá pra querer ser tudo. Mulheres são seres gracioso e divinos, homens são ogros nojentos que se transformam em cavalheiros para agradá-las. Mulher é frágil, homem é forte. Homem cede o casaco para mulher, a carrega no colo, coisas assim. Mas hoje, os homens não querem comer, as mulheres não querem dar, se a coisa continuar desse jeito, a humanidade esta fadada à extinção. O mundo precisa de homens homens assim como precisa de mulheres mulheres.

Eu e a Rita tínhamos ido fazer não sei o que numa cidade vizinha no carro do irmão dela.

— Quer que eu dirija? – me ofereci.

— Por quê? Acha que não sou capaz?

— Só perguntei…

Ia ser uma viagem daquelas.

Realmente, mulher dirige bem melhor que homem. À sessenta por hora, numa rodovia reta e vazia como aquela, até meu cachorro seria capaz de dirigir sem causar acidente. Os gays até que são legais. São alegres, tem mais opções de consumo, fazem festas ótimas… mas alguns deles acham que são a coisa mais importante do mundo. O que as pessoas fazem com o próprio rabo é problema delas. Homem nasceu pra levar tiro na guerra e mulher nasceu para cuidar dos ferimentos. O dia em que uma mulher for capaz de empunhar uma arma, rastejar pela lama e ver seu melhor amigo morrer na sua frente por ter pisado em uma mina, eu fico em casa fazendo bolacha de aveia e tricotando um cachecol com o maior prazer.

Estávamos quase chegando ao nosso destino quando ouvimos um barulho. Eu sabia o que havia acontecido, ela, obviamente, não.

— Ai, meu Deus, o que foi isso?

— Atropelamos um cervo.

— Ai, sério? Será que ele se machucou?

— Não, sua tonta, o pneu furou!

— E o que é que a gente faz agora?

— Você, eu não sei, mas eu vou fica aqui dentro e lixar minhas unhas.

Ela me olhou.

— Que que faço agora?

— Assopra.

— O quê?

— Vai ter que trocar o pneu. Eu espero aqui.

Ela continuava me olhando. Eu olhei para ela.

— Não precisa da minha ajuda, né? Claro que você consegue fazer isso sozinha.

Ela, desconcertada, se deu conta do que estava acontecendo.

— Ah, sim, quero dizer, não, é claro que não… vou lá trocar o pneu.

Abri o porta-luvas. Em meio a batons, fivelas e fios de cabelo, uma revistinha de fofoca.

Bar nunca foi lugar pra mulher. Mulher que vai desacompanhada ao bar é porque quer dar. É claro que a gente adora quando tem mulheres bêbadazinhas no bar, e é claro que a gente se aproveita delas e dá um pé na bunda. Mulher não tem que ter os mesmo direitos que os homens simplesmente porque mulher não é homem. Se eu me assumir bi terei direito a presente no dia da mulher? Seu eu tivesse filho, iria ganhar presente duas vezes ao ano? Acho que não. Até porque homem bi não existe, ou é homem ou é bicha, o fato de uma criatura dessa beijar uma fêmea de vez em quando não ameniza o fato de se sentir coceira no rabo o resto do dia. Humpf! Homem bissexual, sei. Mas então, se quer ter direitos iguais, obviamente terá que ter as mesmas responsabilidades. E é aí que entram as pessoas com a Rita.

— Desce do carro.

— Por quê?

— Vou ter que usar o macaco e você está fazendo peso, idiota.

— Quero ver você tirar as porcas com o carro no ar…

— O quê?

— Você tem que primeiro soltar as porcas, depois levantar o carro, senão a roda vai girar junto…

Engraçado. Eu e ela fizemos auto-escola. Eu e ela temos carteira de motorista. Eu e ela jamais pegaríamos no pau de alguém. Eu e ela gostamos de mulher. Eu e ela dizemos que não precisamos de homens. Mas havia algo ali naquela cena que dizia totalmente o contrário. Ela com a sua sandália, sua mini-saia, tentando não ficar suada… Eu continuava a lixar minha unhas dentro do carro. Não que eu tivesse esse costume, mas a situação exigia. Ouvi ela resmungar alguma coisa parecida com “homens estúpidos”. Mulheres estúpidas, isso sim. Quem deveria estar se sujando e suando debaixo do sol era eu. Ela deveria estar embaixo de uma sombra, tomando água, observando o quanto eu era bom em trocar pneus. Se fôssemos animais irracionais, provavelmente ela me escolheria para gerar sua prole. Mas o ser-humano decidiu que queria decidir seu sexo. Ouvi um parafuso rolando para o mato e uma chave caindo.

— Como vão as coisas aí?

— Tô… to quase.

— Sei… Ei, onde você guarda o seu consolo? É verdade que vocês sempre dão um nome carinhoso para eles? No porta-luvas não está… será que está embaixo do banco? Achei. Nossa, como é grosso e gelado… sua gulosa! Ih! Olha só! É o extintor de incêndio! haha!

— Bobo… Sabia que sexo não se resume só em penetração?

— O quê? Que é que tem a ignição?

— Eu disse que sexo não significa que deve haver penetração, existem outras formas de se obter prazer.

— Ahn? Não to te ouvindo querida.

Tem coisa que é pra homem e tem coisa que é pra mulher. E tem coisa que é pros dois, como num churrasco. Por exemplo: Quem assa a carne? O homem. Quem faz a maionese? A mulher. E o arroz fica por conta de quem? qualquer um dos dois.

Eu vi que aquilo iria demorar e eu não tava com saco pra esperar. A cidade não estava tão longe assim. Se eu usasse tamanco, sandália, rasteirinha ou qualquer outra porcaria que as mulheres usam nós seus pés, eu não me atreveria a sair do lugar. Mas eu sou homem e uso calçado de homem, desses para percorrer longas distâncias. E sem molhar os pés. Saí do carro e fui, simples assim.

— Aonde você vai?

— Tô indo embora.

— Como assim? E eu?

— E eu é que sei? Olha, tem um posto de gasolina a cinco quilômetros, você pode pedir ajuda lá. Cuidado com os caminhoneiros, eles são gordos, grossos e não fazem sexo há meses. Tô indo nessa, falou.

Eu daria tudo para ver a cara que ela fez nessa hora. Mas existem momentos na vida em que a atitude e os gestos contam muito, e esse era um daqueles momentos em que você vira e vai embora. Ela era independente, iria ficar bem. Estava anoitecendo, o mato no acostamento é cheio de bichos, mas ela não precisa de homem nenhum para protegê-la.

A verdade é que o posto ficava só a um quilômetro, mas ela não viu a placa. Se ficasse um pouco mais longe do que isso eu não agüentaria andar. Eu pediria um guincho e iríamos embora. Eu sei trocar pneu, mas porque fazer uma coisa quando outra pessoa pode fazer no seu lugar? A verdade é que eu nunca troquei um pneu em toda a minha vida e não ia ser agora que eu iria fazê-lo. Por quê? Porque a roda é de quatro furos e o estepe era de cinco, outra coisa que ela não havia percebido.

Não é querer ser machista nem nada (até porque, se parar pra pensar, eu sou muito mais feminista do que se imagina), mas tem coisas que só alguém com um pênis (alguém que saiba usá-lo e quando usá-lo) pode fazer por uma mulher, estando ela em apuros ou não.

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PS.: Além de eu não saber assar carne, não tenho certeza se sou realmente hétero. Creio que só terei certeza disso quando experimentar o outro lado e não gostar mas, enquanto isso, prefiro ficar na dúvida e deixar que aqueles que têm certeza ou não, troquem os pneus e assem carnes para mim. Pode deixar que o arroz eu faço. E fica MA-RA-VI-LHO-SO! Brincadeirinha…
 

Rodrigo D.

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