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O Reino das Botas Mágicas – parte 1

Guto chegou até seu avô e foi logo pedindo a história de seu país. Já completara 10 anos mas ainda ficava fascinado pelas estórias que seu avô contava, principalmente sobre como seu país ficara livre dos invasores bárbaros do século passado e alcançara a prosperidade que hoje ostentava. O avô já tinha passado dos 80 anos, mas o orgulho dos feitos de seu pai ainda o faziam tagarelar o dia inteiro para quem tivesse ouvidos para ele.

– Bom, Guto… Há quase um século atrás nosso minúsculo país era invadido e saqueado constantemente pelos bárbaros que vivem nos países altos, sobre as montanhas, entre o gelo e as pedras… Seu avô não negava que adorava contar a história, nem poderia fazê-lo pois seus olhos brilhavam ao rememorar o passado, e os dois viviam uma simbiose única nesses momentos.

– Nossas famílias eram facilmente dilaceradas pela força da espada e nosso povo pacífico e ordeiro resignava-se com a força do inimigo e diminuía todo dia seu esforço para reerguer suas casas e prédios públicos na esperança de que o inimigo desistisse de combater com um alvo que não reagia. No entanto, era da natureza dos bárbaros invadir, pilhar, brigar e tomar tudo dos outros como se deles fosse. Nessa época meu pai, seu bisavô, era guarda real e teve sua incumbência modificada no dia que o príncipe resolveu partir e buscar as montanhas onde diziam as lendas existir um sábio que poderia conhecer uma maneira de enfrentarem e superarem seus desafiantes sem ter de abandonar o país, suas famílias e suas terras. As pausas longas para tomar fôlego, faziam Guto despejar sobre as lembranças do avô toda a imaginação de uma criança que via heróis, flâmulas e guerreiros onde existiam homens desesperados…

– Continuando… Alertou o avô retirando o neto do transe imaginário. Seu bisavô partiu com o príncipe e mais uns 10 homens rumo às montanhas em busca do tal sábio que lá viveria e de alguma resposta por seus anseios. Antes da partida, toda a cidade principal recebeu reforço de comida, acolheu seus filhos em seu seio de forma a construir carroças, estocar comida e preparar a grande jornada. Roupas novas para abrigá-los do frio intenso foram fabricadas e novos cavalos selvagens foram caçados e domesticados para a aventura. O Rei resignou-se à vontade do filho e reuniu tudo que de melhor poderia conseguir em apoio para a grande empreitada que viria. Assim, passaram-se meses de preparativos e os camponeses vinham entregar sua produção na cidade e ficavam para ajudar um pouco. De posse de algumas tábuas da serraria que se montara ali, reformavam suas carroças e casas e sempre que voltavam traziam mais madeira para a cidade que pareceu crescer rapidamente naqueles tempos de esperança e resoluto trabalho árduo.

– Mas vovô, vai logo para o que interessa…

– Meu filho, seu avô já está meio esquecido de tudo. Vamos ver… Ah!, sim. O príncipe partiu com seus aliados, companheiros e protetores. Após algumas semanas retornaram algumas carroças cheias de couro e uma bota. Disseram tratar-se da bota do príncipe que havia entrado na gruta em busca do sábio e ordenara a seus homens que voltassem se ele não retornasse em um dia. Assim fizeram, seu bisavô estava junto e resistiu à viagem de volta. Infelizmente nem todos conseguiram tal feito, pois nosso povo não era acostumado com as agruras e dificuldades do clima montanhoso. As coberturas de neve e o caminho ficavam estranhos pois constantemente mudavam conforme o vento que soprava a nevasca. Assim, para muitos tornou-se um caminho para o inferno, mas que todos sabiam tratar-se de outro destino: o céu. Isso ocorreu para a maioria dos acompanhantes do príncipe, na verdade. O Rei irritado tornou a montar seu cavalo e dispôs-se a ir buscar seu filho pessoalmente, no que foi impedido por seus conselheiros que remontaram a expedição rapidamente com os recursos que possuíam e enviaram um número maior de homens, cavalos e carroças para o resgate. Afinal, durante esse tempo de viagem continuaram trabalhando nos projetos iniciados para a grande viagem e nem sentiram os dias passarem ou os corações apertarem-se pela expectativa.

Continua…

Mauro Rodrigues

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