Simplicíssimo

A máquina de escrever

Lembro perfeitamente: era uma Olivetti, portátil. Azulzinha. Herdara de minha mãe, a qual, por sua vez, herdara de meu avô. Lembro perfeitamente daquela máquina de escrever, em especial pela letra “l”, que sempre falhava – tínhamos que sempre voltar o rolo e bater duas vezes na tecla para que a letra aparecesse. E recordo principalmente que foi naquela máquina que tudo começou.

Foi naquela máquina, velhinha, a pintura azul já cedendo lugar à ferrugem, que escrevi a minha primeira tentativa de romance (melhor dizendo, uma novela). Digo acertadamente “tentativa”, pois a verdade é que meu primeiro livro – orgulhosamente intitulado “Ninho de Vespas” (suspense policial?) – jamais veio à luz. Tinha então quinze anos e sentia-me o gênio das letras; um talento nato que somente esperava o momento de despontar. E, catando milho na velha Olivetti, escrevi cinqüenta páginas daquilo que – entendia! – ser uma mistura de assassinato, sexo e política, ligando os parlamentares em Brasília aos membros do Cartel de Cáli, a temida Máfia Colombiana. Enfim, delírios juvenis (seriam?), mas que para mim, naquele momento, revolucionariam a Literatura mundial.

Não revolucionaram. Desapontei-me por um momento, mas não desisti. E continuei catando milho na minha velha Olivetti.

Até que, muitos rascunhos depois, numa tarde de Janeiro de 2001, a máquina parou de funcionar.

Triste, olhei para suas teclas estáticas, mas logo entendi. A morte (não tão súbita) da máquina era o sinal. E, naquela mesma tarde, comprei um computador.

Hoje, passados sete anos, cato milho em um notebook.

Se já publiquei meu “Ninho de Vespas”? Claro que não. Mas já comecei a escrever um novo livro: uma mistura de assassinato, sexo e política, ligando os parlamentares em Brasília aos membros do Cartel de Cáli…

Edweine Loureiro

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