Confesso: eu sou do tipo que chora em cinema. Não resisto. Se a cena mostra um pai de família, desabrigado, que finalmente consegue um emprego, são certas duas ou três lágrimas, no mínimo. Agora: se um tanque americano surge para resgatar uma criancinha que foi salva pelo pai no Holocausto, ah, então uma caixa de lenços… por favor (antes que eu morra por afogamento)…
Chamem-me sentimental, piegas, que seja. Sou, sim, um inveterado chorão de matinês. Cinema Paradiso, Billy Elliot, Central do Brasil… – todos esses foram filmes que, durante as sessões, resgataram-me lembranças ou momentos de minha vida, resultando em chororô. E, no último domingo, em um Cinema próximo de casa, acrescentei meu primeiro filme japonês a essa lista: Okuribito (2008, direção de Yojiro Takita).
O título é uma combinação das palavras okuru (= enviar) e hito (= pessoa). Assim, em uma tradução literal seria: a pessoa que envia. No caso, aquele que envia os mortos. Explicando: um profissional (atualmente, no Japão, mais comum na área rural que nas cidades), cujo trabalho é dirigir uma cerimônia de preparação dos mortos; limpando os corpos, vestindo-os, enfim, preparando-os para a eterna viagem…
A história é simples e, por isso mesmo, humana: após perder o trabalho em Tóquio, um violoncelista retorna à cidade natal, acompanhado da esposa. Porém, chegando lá, o único emprego que consegue é como assistente em uma casa especializada neste serviço de preparação dos mortos, que intitula o filme. Pronto: contar mais seria estragar um prazer de duas horas de risos, questionamentos e dramas, que em momento algum aborrecem o espectador. A questão do regresso às origens; de como o protagonista encontra em um ritual fúnebre um sentido para a própria existência; tudo, combinado a um mundo de belíssimas imagens, fazem de Okuribito uma maravilhosa experiência cinematográfica.
O tipo de filme que, ao final da sessão, deixa-nos com varias questões – sobre a vida, a morte… – e uma única certeza: a de que valeu o ingresso.
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