Na superfície irregular do Coração
Há encaixes como os de um brinquedo
Onde brincas, onde só tu brincas
Colocas e tiras coisas ao bel prazer
Satisfazendo-se e insatisfazendo-se
Indo e vindo, pesando e aliviando
– “O Coração aguenta, o Coração é forte”
Não se tem direito a nada
Reclamar num simples murmúrio
A dor que sente, indisfarsável
Agonia transpirante, a dor é preta
As alças do peito arrebentaram
Não se pode mais dar conta, nunca pode
E vamos indo, economizando pneus
Economizando freios e combustível
Sem gastar mais nada além do mínimo
No mínimo vais dizer que não sabia
Não percebeste nada e vai tudo bem
Hoje os encaixes já não são os mesmos
Gastos, aceitam qualquer peça
Danificados aceitam nenhuma peça
Coração forte e flexível
Até mesmo inquebrável, inoxidável
Assim parece
Pois não se quebrou
O que não se viu quebrado
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