Simplicíssimo

O Choque de Uma Beleza

Ítalo dirigia seu carro como sempre: não ultrapassando pela direita, respeitando o limite de velocidade, parando (apesar das buzinas alheias) quando avistava um pedestre esperando na faixa, e nem passava nos sinais que já estavam no amarelo. Sozinho em seu carro conseguia aproveitar as belezas do trajeto. Sua cidade era uma das poucas onde se podia respirar ar puro e contemplar o imenso horizonte totalmente verde seja qual fosse o lado da via. Numa dessas viagens, ouvindo sua habitual música clássica, deparou-se com a mais linda paisagem de todas. Desligou sua música clássica, parou de assobiar e emudeceu. Ficou completamente estático até aquele silêncio ser interrompido bruscamente por um barulho de uma forte freada seguida de um estampido que traduzia todo o estrago que viria a seguir.
Ângela era uma mulher lindíssima, mas poucos conseguiam vê-la assim. Ela tinha lindos longos cabelos loiros um pouco escurecidos e medidas perfeitas, das quais toda mulher em plena juventude desejava possuir. Seus olhos eram verdes em um tom que combinava harmonicamente com seus cabelos. Tanta beleza reunida não era notada por muitos porque Ângela, mesmo sem perceber, costumava camuflá-la. Até que um dia foi bastante questionada por isso:
—Não Ângela, você não vai mais fazer isso com você mesma. Não irei deixar, não mesmo. E acabou-se.
—Nada disso, o corpo é meu, as roupas são minhas e me visto como eu quiser.
—Vamos fazer uma aposta então: eu te produzo hoje e se, menos de dez homens não te notarem, ou se mostrarem deslumbrados contigo, aí você volta a se vestir do jeito que achar melhor, ok?
—Ok, Taciana, Dez homens, hum, fácil, um dia só, dá pra agüentar, vai ser divertido talvez. E duvido um homem sequer agir diferente. Eu topo.
Depois de 52 minutos dignos de recorde mundial, faziam-se as mudanças em Ângela: As camisas geralmente de malha e frouxas eram substituídas por outras de um número e estilo que valorizavam bem mais suas curvas, seus cabelos eram agora soltos em vez de timidamente presos e seus óculos eram forçadamente aposentados. Ela que não tinha grandes problemas de vista sairia sem eles, pelo menos hoje. E ficou acertado que se sua amiga saisse vencedora da aposta ela iria tentar utilizar-se de lentes de contato. E nem precisaram de mais um minuto pra comprovarem o “impacto” que aquilo tudo iria causar. Foi abrir o portão e…
—Aquele rapaz ali, você conhece, Taciana? Ele até tirou a mão do volante… que é que ele tem hein? E não pára de olhar pra cá.
—Poxa, Ângela, será que você não entendeu ainda o porquê? Mas espero que ele se lembre do cruzam…
Não deu tempo de completar a frase, as duas tinham agora expressões de choque estampadas em suas faces. A batida não parecia de imediato muito séria, mas o barulho que ela causou assustou um pouco. Depois de todo o procedimento de resgate os dois acidentados foram levados ao hospital mais próximo onde se desenrolava uma discussão entre duas grandes amigas:
—Tá vendo Taciana? Eu bem que não queria fazer nada disso. Olha o que essa brincadeira causou.
—Que nada, o cara não pode esquecer o volante e de tudo assim. Eu sempre soube que você era linda, mas também foi imprudência dele.
Surpreendendo a todos, Ítalo acordava e se deparava com aquela belíssima mulher agachada e rezando por ele. O médico aproximava-se e perguntava:
—Vamos ver o quão consciente você está: responda-me se você tem noção de que lugar é esse.
—Ah, meu chapa, estou ótimo e sei perfeitamente onde estou. E antes de vir para cá briguei com minha mãe. Ela teimava em dizer que Deus não existe, que o céu também era invenção. Eu sabia, tinha certeza, agora mais do que nunca sei que eu estou certo.
Era interrompido pelo médico:
—Então, onde você está?
—No céu, com certeza, só não sabia que ele poderia ser tão melhor do que eu imaginava.
Neste momento o outro acidentado despertava dizendo:
—No céu um scamball, isso é o inferno, aquele carro que você destruiu não era meu, era do meu chefe e no mínimo eu serei demitido. Mas pelo menos posso quebrar tua cara.
—Poxa, tava tudo muito bom para ser verdade mesmo, de volta a terra…

Frank Santos

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