Simplicíssimo

A Mão que Balança o…


Formalidades à parte, uma coisa que sempre o incomodava era o asseio, ou a falta do mesmo, por parte do corpo de funcionários pertencente ao sexo masculino na empresa. Pois, para seu espanto, a pia estava lá, o sabonete líquido e o papel toalha também, além, claro, da água nas torneiras, mas pouquíssimos preocupavam-se em lavar as mãos após o relaxante descarrego líquido biológico usual.

O fato passaria realmente despercebido, não fosse a necessidade de realização de reuniões exaustivas ao longo do período comercial, abordando assuntos diversos. Reuniões exigiam apresentação e, para seu desespero, apertos de mãos efusivos, acompanhados pelos intragáveis tapinhas nas costas.

Protegido, levava nos bolsos um lenço umedecido em álcool. A cada aperto de mãos, uma enfiadela nos bolsos, e pronto, uma agradável sensação de assepsia e asseio invadia-lhe a alma.

Houve o dia em que, às pressas, esquecera o lenço em casa. Só na reunião foi que deu conta do fatal esquecimento. Apertou quatro mãos, e procurou o lenço no bolso direito. Nada. Famigerado dia-a-dia corrido. Em suma, a reunião não rendeu. Retirou-se por alguns instantes para lavar as mãos. Voltou e, eis, mais oito membros ofereciam-lhe as falanges ao costumeiro cumprimento. O certo é que, entre saídas, voltas e novos cumprimentos, ao término da reunião, com a exígua quantia de quarenta e dois membros, estava exausto e sem nenhum aproveitamento específico.

Noite mal dormida, mau humor natural, certa manhã, resolveu vingar-se. A cada visita ao banheiro, anotava o nome dos esquecidos desleixados, e fixava no mural de cada andar, sorrateiramente, o nome de cada adepto à economia de água e limpeza. Constrangimentos mil, comunicados ameaçadores do RH, recompensas oferecidas aos delatores, e, para sua surpresa, o asseio foi entrando na empresa, de forma rápida. Todos eram fiscais e fiscalizados, ninguém queria entrar no listão, que foi sendo rebaixado a lista, depois a listinha, depois a nada, desapareceu. Abandonou definitivamente o lencinho…

Outra noite mal dormida. Gripe forte, tosse e mal-estar. Mal humor natural. Entrou no toalete para o descarrego costumeiro, a não viu o office-boy na última casinha, leitor assíduo dos esportes radicais. Saiu sem lavar as mãos, e ganhou o nome grafado em letras garrafais em todos os quadros de aviso da empresa.

Demitiu-se quatro dias depois, pois ninguém queria cumprimenta-lo nas reuniões costumeiras, olhavam-no com certa expressão de asco e desprezo…


Fim


Marcos Claudino

Marcos Claudino

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