"E como uma pétala de ar, ele caiu no sono… ainda não acordou." Bernardo WK
Começo com o nosso amigo WK para acabar com ele. Ao menos assim o deveria. Mas como? Como fazê-lo se o excesso de zelo do nosso amigo não propôs nada senão a si próprio? Talvez eu não concorde com este vale-tudo, assim como parece não concordar o próprio Bernardo. E quem é o Bernardo? Pouco sei dele e também não muito descobri sobre mim. Mas, como cá estamos para embalar estes novos passos do Simplicíssimo, ouso brigar sem inimigo ou pacificar-me com o que cá do meu lado já está.
Não sei, por isso começo. Por isso recomeço, como Haroldo, o de Campos.
Espero, apenas, que o meu fogo cuspido (e que aliás seria jorrado se viesse a apagar outro fogo, mas não, nada encontrei além de madeira seca, graveto inútil e sem inspiração, secura abstrata de nosso outro agente dialético) traga consigo a raiva criadora, a faísca cilhadora de nossos ventres poéticos, contísticos; que traga consigo o broto da dialética erística para que encantoemos os versos da grande discussão literária, sob o mormaço de nosso limitado pensamento (nossa confessa, e conjunta, ingnorância).
Mas qual inimigo é este? Qual contista poderia ser inimigo meu, que também o sou? E qual raiva poderia sentir eu, escalado poeta, por tal irmão de calvário, sendo que a dor de não sentir o abstrato é tão mortal e pútrida quanto a dor que sinto eu: a de ter o mundo como um grande véu de sombra e aroma em meus sentidos?
Faço da erística, arma, pois passa por meu porto um Schopenhauer inspirado. Como uma aroeira-do-campo, rasteira, engenhosa, dropo da cátedra humilhada por Zarathustra para engatar-me em lutas semânticas, vale-nada, poema insulso da tragédia do egocentrismo.
E penso, repenso, ainda mais uma vez o faço. Depois cago na sociedade de WK, obedecendo-lhe a idéia. Há há há, dirá o sarcástico, mas bem sei que esta mesma sociedade que nos faz solitários invejáveis, é a mesma que rouba-nos o mar da poesia, tendo toda sua polícia a postos. Então por quê? Por que te incluir na gangue de arma e calculadora?
Faz sentido não perder o sentido? Oxalá que sim. Afinal, existe um meio que não divide: o meio-termo. Mas tens coerência, amigo, o meio-termo não existe em calculadoras e mundos do faz-de-não-fazer-de-conta. Tens coerência, porque volta a esbarrar-te na forma dura e seca da pedra que apresenta o abismo, quando toda felicidade está a pairar no vento que vence seus limites. Voar, sim. Por que não?
Ok, ok, esconjurado o jovem que carrega a bigorna do amor sobre a racionalidade. Esconjurado eu. Mas diga-me então, calorífugo WK, a vida vale a pena sendo a alma tão pequenamente ensombreada pelo concreto? Deixe-me pensar que não ou convença-nos do contrário. Não é para isso que estamos aqui?
Termino pensando que as máquinas venceram. Cessou o barulho. O grande homem das letras que amava o exato foi substituído por milhões de combinações de zeros e uns. O pequeno homem que contemplava o abstrato foi conduzido ao céu e, agora lá, fantasia com seu antigo mundo humano de amores impossíveis e sabores de hortelã.
Somos ambos apóstolos de um grande criador. Como não seríamos criadores? Satisfaçamo-nos como companheiros desta jornada malbendita, condenados ao extremo de pensar que ainda pensamos.
Grande abraço.
Como prometi, acabo com WK: "Censurar é ter vergonha do outro".
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