Simplicíssimo

A Revolta da Melancia

“A mulher que o tiver como companheiro será muito feliz…”, era a 8ª vez que ouvia essa frase, resultado de um pensamento repentino que teve. Depois de passar na centésima quinta feira de pequenas utilidades de seu bairro, e comprar seu adesivo câmera, o qual colou em volta de um dos dedos da mão, e sair por aí entrevistando várias mulheres conhecidas dele de muito tempo. As perguntas eram sobre ele, dizia que queria ter esse vídeo com ele para assistir quando estivesse mal-humorado ou totalmente depressivo. Depois desse oitavo testemunho indignou-se, chegou a ter vontade de quebrar tudo à sua volta, mas foi apenas por alguns segundos. Ouvir aquela frase repetidamente de forma totalmente espontânea e de maneira tão verdadeira, mas nunca conseguir sucesso ao lado daquelas que elegia como prováveis companheiras era bem torturante. Então pensou um pouco e visitou outra feira, afinal, mesmo em 2087 ainda se podia visitar um número variado de feiras livres. Parou numa barraca de frutas, verificou que no chão e à parte via uma caixa com melancias bem bonitas, mas em separado. Como era estudioso em muitos assuntos, já sabia do que se tratava: Havia sido descoberta uma espécie de bactéria pouco ofensiva ao corpo humano que era encontrada no interior de melancias, e que produzia uma substância que deixava a fruta com ótimo aspecto. Detectores portáteis foram fabricados e acusavam a presença de tal bactéria de forma simples, de funcionamento parecido com um detector de metais. De mal provocado, apenas uma forte, mas não duradoura diarréia. Então Astrogildo olhou bem, pensou mais um pouco e disse:

—Pega aquela ali da ponta, a lindona ali.
Disse apontando a mais bonita de todas as melancias que se encontravam ali dentro. O vendedor abaixou-se e já ia alertá-lo quando foi interrompido:
—Eu sei, eu sei, quero ela mesma, passa o detector para eu ter certeza que ela tem a bactéria, por favor.
—Ok, ok, meu patrão, pra mim é até bom, porque depois pra me desfazer delas iria dar um trabalho, ta sempre enchendo uma caixa dessas, ô praga viu?
Despediu o atencioso vendedor deixando uma pequena gorjeta pra ele.
Dirigiu-se àquela casa tão antes freqüentada, tocou a campainha, esperou, avistou novamente àquela que era um colírio para os seus olhos e disse:
—Se você é minha amiga de verdade como sempre me disse promete que faz um favor pra mim.
Ela, meio surpresa, respondeu:
—Claro querido, com todo gosto, fale:
—Veja bem, a ordem é bem importante: pegue esse vídeo aqui e assista, mas só depois de comer alguns pedaços dessa melancia, não se assuste, não é pegadinha, tudo irá ficar bem, confie em mim e faça como estou dizendo, isso talvez sirva para você tirar algumas conclusões importantes.
Ela novamente sem entender muito do que se tratava acatou o “desafio”.
—Ok, querido, tomara que não sejam conclusões indigestas.
Dessa vez Astrogildo teve que se controlar muito para não rir e disse com ar de total seriedade:
—Claro que não querida, confie em mim!
Saiu dali pensando consigo mesmo:
“é minha filha, me trocou pelo primeiro manezinho marombado e almofadinha que apareceu, agora que desfrute essa sua lindíssima melancia e que tire ótimas conclusões disso tudo”

Frank Santos

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