Rara é a semana em que não me abordam na rua para perguntar sobre o paradeiro de Ditinho Puxa-Uma-Perna, figura que já foi assunto de crônica minha no final de 2009.
Levando em conta o apelido do Dito cujo, é óbvio que o seu paradeiro não pode estar muito longe, mesmo tendo-se passado três longos anos desde a última vez que o avistei, engraxando o sapato da outra perna. A baixa velocidade média com que se locomove e sua aversão a táxis, ônibus, metrôs e caronas, certamente não o levariam a Cingapura e adjacências. Mas o que me intriga nessa história é indagarem a mim por notícias dele, logo eu que não sou de sua família nem nunca fui propriamente chegado à sua pessoa.
É sabido que conseguiu livrar sua tradicional fábrica de gatilhos da concordata no ano de 2010, fase em que andou frequentando assiduamente o santuário de Duña, o oráculo dos oráculos, em busca de luz para o breu empresarial em que estava metido. Daí em diante, por onde andou Puxa-Uma-Perna para mim é uma incógnita. Na verdade, Puxa sempre prezou a sua notória habilidade de esconder-se do mundo quando queria ou se fazia necessário, e não é impossível que esteja neste momento zombando daqueles que o procuram, amoitado em algum porão de mercearia.
Entretanto, do pouco que conheço do sumido manquitola, arriscaria supor que talvez tenha se aproveitado das vagas que as empresas destinam às pessoas com necessidades especiais e se estabelecido como atendente de telemarketing na indústria de adubos de um camarada seu de Mato Grosso, conhecido no pantanal como BB, ou Basílio Bocó.
Outra hipótese bastante plausível é que tenha aberto um posto avançado do santuário de Mestre Duña em alguma cidade aqui da região, já que parecia realmente grande o entrosamento entre ambos. Essa possibilidade ganha força pelo fato de Ditinho possuir uma boa reserva financeira obtida por herança de seu saudoso pai – o não menos popular Jovelino Arranca-Toco, que fez relativa fortuna no setor de terraplenagem e certamente legou a Puxa-Uma-Perna quantia suficiente para um empreendimento desse porte.
Repito, porém, que estas são apenas conjecturas, já que o nosso apaga-pegadas sempre foi um sujeito de comportamento irritadiço e imprevisível. Morto não deve estar, pois notícia ruim corre rápido. Ainda que o defunto, no caso, fosse o bom, velho e sempre vagaroso Puxa, figura folclórica da terra e merecedor de nome de rua. Quem sabe de escola pública, pracinha de bairro ou até mesmo posto de saúde. No mínimo, no mínimo, uma clínica de fisioterapia.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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