Simplicíssimo

Resenha do Texto “Antropologia Fílmica – Uma Gênese Difícil, masPromissora”, de Claudine de France

Neste texto, Claudine de France propõe os fundamentos da Antropologia fílmica, disciplina relativamente nova, e as principais questões que permeiam sua existência. A primeira constatação que é feita é a necessidade de planejamento, através da observação e da escrita, do cinema antropológico. Claudine chega à conclusão que muitos antropólogos-cineastas, por fugirem da escrita, limitam a Antropologia fílmica ao simples ato da realização de filmes etnográficos. Na apresentação de tais filmes, ocorrem descobertas, comparações que geram então debates orais que são os responsáveis por teorizar sobre o utensílio da investigação audiovisual. Segundo ela, sem o apoio da escrita, essas discussões jamais atingirão o estágio de um verdadeiro exame analítico, subsistindo apenas algumas intuições esparsas. Com suas próprias palavras: “Cada nova apresentação de filme, tributária do grau de conhecimento que tem da matéria um público heterogêneo, aborda apenas questões espontaneamente levantadas por esse último, e retoma as coisas em seu ponto de partida. O que resulta disso é a impressão de que, em nível teórico, sempre se está marcando passo.’ Qual é o objeto dessa nova disciplina? O homem e a imagem do homem? Poderíamos ser mais precisos? Bem, talvez: seria o estudo da cultura humana através dos registros em imagem da mesma, sendo cultura entendida como tudo que o homem acrescenta ou substitui à Natureza. Assim, a inesgotabilidade e a diversificação dos seus objetos de estudo estendem ao infinito as fronteiras da disciplina. Interessantes são os casos em que as câmeras são voltadas para aspectos de nossa sociedade que por várias razões jogamos para a periferia de nossas preocipações, o que conservamos no “abismo do não-dito e do não-visto”, como por exemplo as minorias étnicas ou culturais que ficam à margem da cultura dominante. Assim, encontramos uma função por vezes de “redenção social” de um grupo, através da identificação de problemas de ordem social em uma determinada cultura. De France também revisa rapidamente a evolução ta tecnologia no cinema antropológico, desde as primeiras câmeras mecânicas sem possibilidade de gravação simultânea de som até a revolução tecnológica do pós-guerra e principalmente após 1960, com a diminuição do peso das filmadoras e a possibilidade de gravação de som e imagem simultâneos. Fala da antropologia participante, onde é dada a palavra e a câmera para aqueles que antes tiveram apenas papel passivo na cena: os filmados passam a filmadores – mais uma revolução. Após a década de 60, ocorreu o “boom” do cinema antropológico, com seus participantes mais ativos dividindo-se em estudos sobre as consequências das modificações sociais, outros retomando a tradição da descrição etnográfica, outros ainda registrando a trama de fatos e gestos cotidianos e banais da própria sociedade em que viviam, e assim por diante. Uma constatação importante salientada pela autora é o fato de que pouco importa se o tempo de inserção preparatório em uma cultura seja curto ou longo; o que importa realmente é que o pesquisador esteja pronto para enfrentar o tempo de inserção que as pessoas filmadas lhe impõem, às vezes necessitando longas esperas para que os fatos a serem registrados apareçam. No final, a antropologia fílmica pode ser visualizada como uma disciplina com um campo de estudo amplo, com um controle imperfeito de seu objeto de estudo, encontrando alguns problemas como uma tendência à rejeição da escrita e as necessidades de ajuste do status da linguagem e da imagem (como fazer algo novo usando coisas antigas [como integrar e repensar a linguagem no contexto da apreensão audiovisual] e fazer algo antigo usando coisas novas [ como integrar a apreensão audiovisual no contexto de uma pesquisa clássica estruturada pela linguagem]). O filme antropológico, não só como registro de processos e acontecimentos culturais, pode ser encarado como uma ferramenta muito útil para historiadores, psicólogos e sociólogos, entre outros, no sentido de testar hipóteses ou construir novas, servindo de base comum a essas e mesmo a outras disciplinas. Concluo, usando as palavras da autora:

“Hoje, à medida que continuam a filmar os seres humanos e a experimentar sus instrumentos, os antropólogos-cineastas devem afrontar novas tarefas que solicitam, mais uma vez, os serviçsd sua paciência e de sua imaginação. Eles devem, de fato, elevar-se à altura de sua maneira de apreender os seres filmados, sua maneira, ainda balbuciante, de confrontar e analisar as imagens dos seres filmados. Mas, nisso também, convém apressar-se lentamente”

Rafael Reinehr

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