Simplicíssimo

Morrer não dói

 Ouvindo um poema no CD com a trilha sonora do filme do Cazuza, me deparei com um verso que ele declama no final deste poema, que me despertou uma reflexão que é justamente a frase título deste post: "morrer não dói".

Como já tive a oportunidade de abordar anteriormente no poema SENTIDO DA VIDA, já dizia o sábio Epicuro que morrer não deve doer. Nem para o vivo, que enquanto vive está longe da morte; muito menos para o ser morto, que enquanto morto já não sente mais nada. Talvez a morte doa apenas para o ser morrente, se é que existe este termo. E digo talvez, porque nem sempre podemos dizer que o ser morrente vai sentir dor no momento de morrer, especialmente se este se encontrar dormindo, por exemplo. Apesar disso, é inegável a constatação da perplexidade do ser humano diante da morte. Por qual razão então?

Não posso deixar de pensar que a dor seja realmente algo que me preocupe no momento de minha morte, afinal, não gostaria de morrer queimado, afogado, esfaqueado, ou baleado. Porém, digo com segurança, que não é isto o que mais me preocupa. O que verdadeiramente me preocupa, e se alinha com uma imagem magnanimamente criada por Fernando Pessoa, é a nossa condição de "cadáveres adiados", isto é, nossa condição de viver cada dia diante da possibilidade de que aquele dia seja verdadeiramente nosso último dia como seres vivos.

Assim, na morte, o que dói de verdade não é a morte em si, mas sim ter que conviver, a cada momento, com a hipótese de que posso não estar presente no futuro que estou construindo para mim cotidianamente. Não quero dizer com isso que apenas vou lamentar por deixar de ser aquilo que não virei a ser, mas lamentar o fato de meus esforços cotidianos em construir planos que requerem necessariamente a minha presença no futuro sejam todos infrutíferos.

Desta forma, ao mesmo tempo que a ignorância da morte pode ser considerada uma verdadeira dádiva, como muitos dizem com certa razão, ela também não pode deixar de ser vista como uma angústia diária a todo ser humano, que desconhece quando deixará de estar presente. Tal constatação me permite complementar, modestamente, a frase de Cazuza para: "Morrer não dói, o que dói mesmo é viver!"

Roger Beier

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