Simplicíssimo

amor platônico

Aquele cisne foi criado em cativeiro por causa dos predadores. Quando foi solto colocaram-no, já em idade adulta, num lago. E o cisne, a princípio, tímido e com medo, nadava sempre há poucos metros da margem; ia e voltava. Até que foi adquirindo auto-confiança e invadiu outros territórios, no mesmo lado. Numa dessas suas aventuras viu um cisne fêmea que estava parada à margem, parecendo pensar. Ele foi se chegando, chegando, o coração despertando algo que ele nunca percebeu antes. A princípio ficou a metros de distância só olhando e admirando aquela espécie linda, que ficava no seu cantinho, calada, sem olhar pra lado algum. Ele então respirou profundamente, tomou coragem e lá se foi nosso amigo pra sua primeira conquista. Nadava devagar como se estivesse procurando algo que havia perdido. Foi se chegando perto dela como quem não quer nada, olhava para ela, que mantinha os olhos num ponto fixo.

– v… você… você vem sempre aqui? – perguntou desajeitado.

Ela continuou paralisada do mesmo jeito que ele a viu pela primeira vez.

(deve ser muito tímida) pensou ele.

– está um pouco frio hoje, não?!?

Nada.

Dali a instantes duas crianças acompanhadas pelos pais e por um homem que parecia tomar conta do local coloca as crianças dentro do compartimento do cisne; o pai os acompanhou (que na realidade era um pedalinho).

E lá vai a cisne fêmea, ou melhor, o pedalinho levando as crianças lagoa adentro. E o cisne, enciumado, foi junto.

(pra onde a estão levando?) pensou ele (eles não podem fazer isso! não percebem que a estou flertando???… eles não podem fazer isso!! ora, ora,   e eu não sabia que uma fêmea tinha um compartimento assim pra levar pessoas…)

Onde a cisne fêmea (ops, pedalinho!) ia, lá ia ele, enciumado cada vez mais.

Às vezes ele dava um encontrão na fêmea só pra provocar as pessoas que passeavam no pedalinho. O pai das crianças ficou apavorado e gritou para o encarregado que os esperava à margem da lagoa. Ele deu as instruções e o pedalinho voltou com as crianças e o pai, assustados.

– nunca vi nada igual – disse o pai – esse bicho ai do lado nos assustou – onde íamos ele ia atrás, do lado…

– eu também nunca vi isso, senhor, aliás, nem percebi que um bicho grande desses estava acompanhando, imaginei que este pedalinho estava preso ao pedadinho onde vocês estavam.

Foram-se do local para relatar o acontecido à diretoria.

No dia seguinte, onde o cisne fêmea, ou melhor, o pedalinho deveria estar preso, só havia um pedaço de corda cortado. O encarregado, que ficou de tratar do assunto não conseguiu entender. Poderia o pedalinho não estar bem amarrado à margem do lado, pensou o encarregado e se soltou e foi tratar dos outros afazeres.

Bem longe dali, os dois cisnes bem abraçados nadavam para outros lagos, enamorados. A paixão platônica do cisne macho pelo cisne fêmea estava fazendo com que ela, no pensamento dele, estivesse tomando vida.

Será que… será que o amor é capaz de fazer isso? Já ouvi dizer que sim, que o amor transforma tudo. Dá vida em tudo quando se há o amor verdadeiro.

(baseado numa história que li no portal Terra: Um cisne “apaixonado” por um pedalinho em forma de ave virou atração do zoológico da cidade de Muenster, no norte da Alemanha. Há vários meses, o cisne negro passa os dias ao lado do pedalinho, que tem forma de um cisne branco e é bem maior que o companheiro.)

Afonso José Santana

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