Simplicíssimo

Pataxós e papais


Alguém ainda se lembra do crime hediondo contra o índio Pataxó Hã-Hã-Hãe Galdino Jesus dos Santos? Se esqueceu é só rememorar um pouco. Foi no dia 20 de abril de 1997, na cidade de Brasília, capital desta república da justiça curiosa.

O local do crime, um banco da parada de ônibus na 703 Sul, foi sua última cama. Um grupo de rapazes de classe média passando no local achou interessante comprar combustível e queimar o indígena. Depois fugiram. Galdino teve seu corpo queimado em 95%, morrendo mais tarde.
Os autores da “brincadeira” foram os jovens Max Rogério Alves, Antônio Novély Cardoso de Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves Oliveira. Um deles filho de juiz federal, o que atrapalhou bastante o andamento do processo, pois para que a lei seja cumprida a paternidade é importante no Brasil.

Em uma homenagem do povo de Brasília, o lugar onde Galdino foi assassinado transformou-se em Praça do Compromisso com a Justiça, a Paz e a Vida. O local é conhecido como "Praça Galdino", onde o artista Siron Franco ergueu um monumento. Todos os guias turísticos passam pela praça para mostrar o grau de justiça do país.

Os rapazes foram julgados, mas de acordo com o jornal Correio Braziliense, os assassinos de Galdino nunca estiveram numa penitenciária comum, como deveriam estar. Eles permaneceram inicialmente em uma biblioteca desativada, um privilégio concedido porque serem filhos de pessoas influentes.

Uma vez condenados, a vida dos jovens continuou boa. Parte-se do princípio no Brasil que o poder econômico e político permite todo tipo de violência contra segmentos carentes da sociedade.
Flagrados pela reportagem do Correio Braziliense em bares e consumindo cervejas, os jovens provaram que a justiça brasileira é boa para quem tem influência.

Esta semana os jovens foram ouvidos pelo Tribunal de Justiça por descumprir os benefícios judiciais, que lhes permitia trabalhar e estudar.
A sociedade brasileira está apreensiva. Existe a possibilidade de um juiz amigo do outro juiz mandar desenterrar o índio e condená-lo por ter cruzado o caminho dos assassinos desqualificados.

Sarcasmos à parte, os jovens conseguiram até renovar suas carteiras de habilitação no Detran de Brasília, um benefício concedido apenas aos cidadãos que não estejam com problemas legais. Retratos do Brasil.

Hamilton de Lima e Souza

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