– João Guimarães Rosa –
Sou descaradamente cativa desse trecho de ‘Grande Sertões’ de Rosa. A afeição por este gênio – que não me atrevo a chamar regionalista, posto que universal como só ele soube ser – é herança de meu pai e, talvez por isso, eu a tenha guardada entre tantas outras afetividades extraordinariamente hereditárias. A coleção, em papel-bíblia, não sai de minha cabeceira e, apesar do tempo, continua novinha em folha.
O conteúdo, tesouro verdadeiro. Viagens bárbaras que me acompanham e acalentam noites de insônia até hoje e, com as idades, tomam vida própria, assumem outras conotações, contornos vários, atrevendo-se a me encantar com novas matizes e paisagens inusitadas.
Assim como a própria vida, as idéias desse autor continuam atuantes e dinâmicas, interagindo e se movimentando: correm rios, gritam ecos, declamam poemas, reclamam dores e me aquecem a alma.
Ora afinamos, ora desafinamos. Mas nunca, nunca chegamos ao fim. Verdade maior.
As idéias do Rosa, do Nietzsche e outros tantos realistas que acato, pressupõem a convicção como um cárcere, uma vez avessa a mudanças e a novos paradigmas.
Com alegria, constato que transformações constantes causadas pelo vício da leitura e pelo prazer curioso do conhecimento via Literatura, nos fazem menos néscios, menos beócios, menos velhacos, menos canalhas, nos transformando exatamente naquilo que deveríamos ser – mais humanos…
Negar-se a essa experiência é tornar-se estático, é congelar-se ante a dinâmica vida que nos encerra. E toda estática – seja histórica, geográfica, filosófica, psíquica ou emocional – antecede ao último cárcere: o cárcere da estagnação.
E isso é o fim.
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