Canta o caboclo
Mergulha o boto
Dentro do quarto
brilha a luz da manhã
nos cabelos da menina
Pia a coruja
Canta o caboclo
Mergulha o boto
Dentro do quarto
brilha a luz da manhã
nos cabelos da menina
Ao sol,
o pássaro estende as asas
leque de penas douradas
Vento na mangueira
Bombardeio no telhado
Coração assustado
Mãos pequeninas
rabiscam no papel
pedaços de sonhos.
Manga madura
Fruto saboroso
Seio voluptuoso
Depois da chuva
reluz ao sol
o caju vermelho
Pôr de sol
Solidão na mata
Canta a cigarra
Pôr de sol
Solidão na mata
Lamento de pássaro
A criança
no colo da mãe
tenta alcançar a lua
Noite fria
Estende-se sobre a terra
o cobertor azul
Sapo encantado
Põe a cara feia no buraco
Janela de seu palácio
CAIXA CHINESA
Uma poesia dentro de uma poesia é como uma caixa dentro de uma outra caixa.
É como a beleza, no espelho refletida, espelho de vidro, espelho de água.
Atirei uma pedra, o vidro partiu-se, a água, em círculos, tremeu; pedaços de vidro; gotículas de água… Beleza dividida, em mil pedaços repartida.
A caixa que contêm outra caixa, abriu-se, da caixa prisioneira, salta um palhaço triste.
OS SEIS PREQUIÇOSOS DA MOITA DE BAMBU
Os seis preguiçosos da moita de bambu[1]deitam e rolam aproveitando o dia, despedindo-se do sol que se põe e saudando a lua que surge.
Debaixo de um céu estrelado; embriagados pelo vinho, lançam poesias e canções ao vento…
Suas vidas passam como um rio tranqüilo, levando em suas águas as flores de cerejeira.
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[1]Os seis preguiçosos da moita de bambu faziam parte de um grupo de poetas chineses que levava a vida muito despreocupadamente, deixando que a audição ou recitação de suas poesias e cantos lhes trouxessem o pão incerto de cada dia. (Nossa Herança Oriental, Will Durant, Editora Record)
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