Aos poucos foram baixando os tons de voz, plugando seus computadores pessoais à rede e revisando suas apresentações sobre a última aula. Novamente percebo a divisão entre fascinados e fadigados.
Os fascinados preenchem suas apresentações com comentários pessoais, anexam informações adicionais conseguidas em diversas fontes de pesquisa e fazem da apresentação uma emenda ao tema abordado na aula anterior. Os fadigados cumprem a obrigação de resumir o conteúdo, expor suas conclusões e sequer lançam dúvidas a respeito do que fora abordado.
Iniciam-se as apresentações. Aguardo as indagações e indignações que porventura surjam. O silêncio da discussão em rede, onde todos os interessados, pois existem aqueles que aproveitam para praticar algum passatempo digital, teclam freneticamente sobre seus teclados, arrasta-me aos tempos onde eu estava sentado à frente de uma lousa, argüindo meu professor sobre as constantes mudanças que ocorriam na educação, no mundo, nas pessoas, na tecnologia nos subjugando a computadores e nos dividindo entre tecnologicamente atualizados ou atrasados. Tempos onde as turmas tinham no máximo 40 alunos e o professor era, ou devia ser, o centro das atenções. Hoje com cerca de 200 alunos conectados a uma rede local, recebendo as informações diretamente em seus microcomputadores, a tarefa de ensinar resume-se a preparar as apresentações em formato padrão. Penso que daqui a alguns anos teremos uma geração inteira de enlatados. Pessoas cheias de informação, mas com nenhum conhecimento. Sabem de tudo, mas de nada entendem, nada podem argumentar. Não o saberão fazê-lo, simplesmente.
A admiração com que vários de meus educadores expunham seus argumentos acabou definindo meu futuro. “Hei de tornar-me professor” – pensava àquela época. Hoje percebo que as mudanças tecnológicas criaram novas divisões na sociedade. Segregaram de tal forma nossas vidas que hoje os alunos não conversam ou debatem sobre as aulas. Limitam-se a escrever. Redigem indagações que, por vezes, são tão corriqueiras que gostaria de entender um pouco suas mentes para não chegarem às conclusões sozinhos, raciocinando. Não tenho muito porque reclamar, afinal. Há pouco tempo atrás os debates resumiam-se a poucas questões muito fundamentadas daqueles que queriam testar o professor acerca do assunto. Agora participam com euforia, mas desdém. Principalmente devido ao incentivo que darei ao final do bimestre para os mais participativos e, é claro, aqueles que não responderem não receberão presença no caderno de chamadas que passou a consultar a lista de discussão para atualizar-se. Assim, fico a procurar alguma discussão mais acirrada que venha surgir e corrijo o rumo até o tópico principal, caso esse seja deturpado por algum comentário, indagação ou proposta.
Tenho um colega que me relatou existirem em outros países formas alternativas de ensino. Algumas escolas do primeiro mundo cobram caríssimo para que seus professores tenham salas de aula com no máximo 10 alunos, mantenham com estes uma relação pessoal e profissional mais humana e razoável. Simplesmente, poder associar os nomes às fisionomias já seria de grande valia para mim e para eles também. As relações frias de hoje, criam grupos cada vez menores, mais distantes e fechados uns com os outros. Os jogos em rede, incentivados pelos educadores desta década por criarem identidades nos grupos, apenas servem para acirrar ainda mais essas disputas que, não se estendem para o mundo físico apenas porque as regras não permitem que isso aconteça e porque os alunos são, em sua maioria, uma montanha de cascalho, frouxos mesmo. As relações fortes, como rochas, foram relegadas em nome da individualidade e do time – mais um indivíduo criado pelos educadores da década para justificar porque determinado grupo consegue os objetivos e determinado grupo não.
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