Este texto é de dois anos atrás e estou republicando pois pretendo visitar meus amigos e familiares da Zona Sul do RS nestas férias, podendo tirar novas conclusões ou permanecer com as mesmas. Boa leitura.
Nesse final de semana tive mais um choque de realidade ao visitar meus familiares na metade mais ao Sul da suburbana Metade Sul do nosso Estado. Tenho recebido vários e-mail´s criticando as iniciativas do governo estadual de implantar uma grande fábrica de celulose nessa região e pude concluir, mais uma vez, com meus próprios sentidos a dura realidade dessa histórica área do Rio Grande do Sul. Pode-se tratar a Metade Sul como um semáforo. Por mais simples que seja é o que há de novo, único e aplicável para o momento.
Fala-se em criar na região o deserto verde, denominação ecologicamente correta, com enormes plantações de eucalipto a serviço de alguma megaempresa multinacional que irá explorar a região com todas as forças. Pois bem, a cada ano que passa a situação econômica dos municípios ligados a pecuária de elite, aquela dos gigolôs de bois, vêem seus principais valores intelectuais de lá saírem e os que ficam agonizarem com as parcas condições de trabalho e sobrevivência a que estão submetidos. No momento o deserto verde, odiado pelos ecologistas, é o que há de esperança para inúmeras prefeituras atoladas em dívidas e sem recursos para fazer a infraestrutura mínima capaz de atrair novos investimentos. Isso sem falar nas pessoas que aceitam escalas de trabalho desumanas pelo simples fato de poder contar com alguma renda ao final do mês. Algumas pessoas chegam a trabalhar 14 horas por dia, 7 dias por semana quando dá tudo certo porque se não tem de fazer um extra para terminar o serviço.
Enquanto o aroma de eucalipto não predomina no ambiente, vai aparecendo o deserto amarelo. Isso ocorre porque os agrotóxicos utilizados para evitar o nascimento das gramíneas não produtivas (alguns chamam de inço, outros de capoeira ou xilca) vem diminuindo esse tipo de arbusto na região e beneficiando uma flor típica, uma espécie de margarida amarela, que conhecem como mal-me-quer. Durante a viagem tive o privilégio de acompanhar inúmeros desertos amarelos ao redor do pampa que se estendia por inúmeros hectares da área. A cada ano que passa essa flor vem tomando mais espaço e proliferando sua semente, enraizando-se na terra pouco produtiva e sinalizando junto com as pedras o estado de alerta que vive toda essa grande área do nosso Estado.
Não posso evitar a apologia ao governo, afinal vou defender o deserto verde. Que venha agregar trabalho, disseminar um pouco de renda e ajude a diminuir o deserto de recursos que vem aumentando todo dia onde, por fim, só restará a vermelhidão dos queimados pelo Sol e dos subnutridos, subempregados, subdesenvolvidos…
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