Cai em reflexão depois que Luciana morreu. Mulher forte, bonita, cheia de vida…
Quem pode imaginar que uma pessoa tão cheia de vida pode um dia morrer? Luciana não imaginava.
Tão pouco eu pensei nisso e, quando Lu me ligou, tarde da noite, me dizendo que estava ansiosa pelo novo trabalho, senti em sua voz aquela hesitação familiar de quem esta prestes a dar um importante passo em sua vida.
Falamos durante vários minutos e desliguei, não sem antes afirmar-lhe que tudo daria certo, que era competente, experiente. Não era a primeira vez que passávamos por aquilo.
Manhã seguinte telefone toca, um toque diferente, urgente. Parecia acelerado, urgente. Despertou-me cedo e do outro lado da linha a voz trêmula respirava apressada.
– A Lu. Ela… Ela passou mal e…morreu.
– Como? – obviamente ouvi errado. A voz queria dizer que a Lu de quem falávamos tinha tido um contratempo e se atrasado, perdido o vôo, o compromisso, o contrato. Puxa ela ficaria arrasada com isso, mas, não, definitivamente ela tinha perdido algo que não fosse irreversível. Não a vida.
Aquele dia tirei folga, assim como o resto da semana e da seguinte também. Não queria acreditar na fragilidade da vida e na banalidade da morte. Como podíamos perder algo que não pudesse ser encontrado novamente? Era injusto.
Após dias de longa reflexão decidi que a vida, de repente, escapa de nossos dedos e seus projetos, tão apalavrados, ansiados, num momento perdem-se como um grão de areia na vastidão da praia. Vem o vento, leva, apaga, destrói o castelo que desaba e ai? O que restou?
Fotos não falam, filmes não podem ser tocados, sentidos, ouvidos.
Decidi sim que minha vida pode estar aqui amanhã, ou não. E as ansiedades do cotidiano não são grandes o suficiente para que minha vida dependa das assinaturas ou que eu a deposite nas mãos ou opinião das pessoas.
Antes que minha vida termine amanhã sem aviso prévio, decidi que vou vivê-la previamente ao longo de toda sua existência. È o mínimo que devo a ela, é o mínimo que devo á memória de Luciana.
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