>O pai do jovem Garibaldi era daqueles caipiras mais machos que a própria masculinidade. Caboclo durão, filho de mãe e pai estrangeiros, italianos legítimos, daqueles que vieram substituir os negros escravos nas fazendas produtoras de café no interior de São Paulo nos anos 30.
Tornou-se ao decorrer dos anos num rico fazendeiro no Sul de Minas Gerais, aqui pertinho vizinho com São Paulo. Casou um pouco tarde meio temporão, com mais de quarenta anos e por infelicidade a esposa morreu no parto do seu único filho, Garibaldi cujo nome é uma homenagem ao próprio herói italiano, marido de Anita.
Coitada da jovem Ema, a esposa falecida do velho Victório, tão franzina e adoentada. Deus que a tenha em bom lugar! O menino foi criado com ama de leite, muito bem criado, diga-se de passagem num verdadeiro berço de ouro.
Futuro herdeiro de milhões em patrimônio e dizem algumas pessoas que conviveram com o velho Victório, que ele tinha milhões também em dinheiro, tudo em dólares.
Porém o jovem Garibaldi não se acostumava com a fazenda, tinha medo até das galinhas. O velho italiano contratou dona Ana uma mulher da cidade, ex- professora aposentada mulher de muita classe, muita cultura, poliglota e outros que tais.
Gari era o apelido do jovem Garibaldi colocado pela nova governanta. Com ela aprendeu inglês, a dançar dança de salão, a falar sem erros de português sem gírias e sem sotaque.
E vejam, até a bordar, costurar e desenhar, a pintar em tecidos e por ai á fora. O velho Victório já estava passando dos setenta, cansado da luta brava que era o seu cotidiano, marcado pelas vicitudes da vida, adoentado pelo duro trabalho do campo quando ainda era jovem e agora bastante rico, mas, daqueles antigos que fazem jus ao ditado que diz: Quem engorda o gado, são os olhos do dono.
Dona Ana, a escolhida governanta, foi uma verdadeira mãe para o jovem Garibaldi, não era mais tão jovem assim e agora que Gari tinha dezoito anos, pediu para ser dispensada pelo seu Victório. Estava muito cansada. Não aguentava mais a lida do dia a dia. Precisava de repouso e infelizmente, agora era ela que necessitava de uma enfermeira para cuidá-la. Coisas da vida.
Agora, sem dona Ana para intermediar as conversas entre pai e filho,Garibaldi depois de muitas brigas com o seu velho pai resolveu ir embora para o Rio de Janeiro. Tinha conhecido no Colégio onde se preparava para entrar na Faculdade, um colega que era carioca.
Gari disse ao pai que ia morar na casa dos pais do amigo até arrumar um local para morar na Cidade Maravilhosa. O pai, mesmo contra a vontade mandou o seu advogado particular ir com o jovem para o Rio e depois de dois dias acomodados em um hotel cinco estrelas, consultou varias imobiliárias e por fim comprou um apartamento para o jovem Garibaldi em Copacabana de frente para a praia. Pelo menos assim o velho ficaria tranquilo na fazenda, ciente que o filho estaria em sua própria casa e não na casa de estranhos morando. Uma polpuda mesada também todos os meses seria depositada na conta do jovem filho do fazendeiro. No começo, ou seja, nos dois primeiros anos, todos os meses o velho recebia uma carta do seu filho, contando que estava tudo bem com ele, que fazia um curso técnico em uma boa faculdade. Coisas cotidianas e banais.
Depois, as cartas foram ficando escassas, rareando, até que não veio mais nenhuma. Nesse ínterim o velho Victório conheceu uma enfermeira, uma senhora viúva de sessenta e tantos anos, chamada Rosália, cheia de saúde, morena saudável, bem apessoada e segundo ouvir dizer, essa senhora tinha poderes amorosos escondidos, pois, o velho voltou à viver e sentir como era boa a vida.
Passou a andar pela fazenda novamente, a cuidar ele mesmo dos negócios pendentes. Voltou a fiscalizar as compras e vendas, a acompanhar seus rendimentos, tudo isso sempre acompanhado pela sua enfermeira, agora, sua companheira, de cama e mesa. E foi por sugestão dela, ao ver o velho tão saudoso do mal agradecido do filho que sequer mandava uma carta para o pai que tanto fizera por ele, que o casal resolveu fazer uma visita de surpresa para o rapaz.
Dona Rosália preparou tudo, da fazenda foram para São Paulo de carro, depois até o Aeroporto e de lá, para o Rio de Janeiro. O endereço, o mesmo das velhas cartas. Em Copacabana.
Assim que chegaram ao endereço que tinham dado ao motorista de táxi, este os deixou em frente ao prédio. Foram ao terceiro andar. O casal de velhos subiu pelo elevador e logo no corredor acharam o numero 39.
Tocaram a campainha. Uma jovem, de cabelos longos e alourado, vestindo apenas um short curto e blusinha tipo top, mostrando um belo par de seios atendeu a porta:- Olá, o que desejam? O velho Victório sentiu as pernas bambear…
– Papai, o que o senhor esta fazendo aqui? Meu Deus! Disse Gari ao reconhecer o seu velho pai.
A surpresa do velho fazendeiro tinha sido tanta que ele sofreu na hora uma súbita vertigem, imagine: encontrar o filho vestido de mulher com seios e tudo bem na sua frente, cara a cara! O velho foi atendido no Hospital Souza Aguiar. Agora estava sendo tratado pela sua companheira Rosália e a própria filha, digo, seu próprio filho, o travesti Gina Sofia, ex- Garibaldi, que é Enfermeira Padrão no mesmo hospital aonde o velho Victório está sendo atendido.
By Luc Ramos
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