Simplicíssimo

No frio gélido da fronteira (…)

Hoje, tenho certeza de que alguma coisa amanheceu diferente. Tá tudo tão em slowmotion. Sabe, tá todo mundo com aquela cara de adolescente inseguro e idiota. Eu fico com raiva disso, entiendes?

Na realidade, essa coisa de ¨pode confiar em mim¨ me irrita. Essa coisa de curiosidade pra saber o que os outros têm, qual seus problemas, qual suas dúvidas ou superstições. Não sei porque mas eu andei saturando. Essa coisa que estar vidrado em uma coisa que sei que não sou, que não entendo, que não funciona pra mim.

Isso tudo é tão falso. Parece um pano, uma coisa cinza, uma cortina bem comprida, uma porta trancada. Acho que alguém mais poderia fazer uma força e abrir os olhos praquilo que acontece ao nosso redor. Tá tudo acontecendo. Tá tudo acontecendo agora. Aqui, lá , em todo o lugar. O propósito de se estar prewso ao mundo é este.

Observar. Observar-se. Comunicar-se com tudo ao redor de tudo e ao redor de tudo e…e…e…

Acho que, eu preciso sair. Sair, sabe? Sair de dentro de mim mesma, e começar a minha missão. Eu tenho uma missão. Tem alguma coisa que eu preciso fazer. Alguma coisa grande. Alguma coisa agora.

Eu ainda não sei o que é. Mas isso é o de menos.

¨Amar¨. Sabe todo mundo que eu vejo amando sofre. Não é bom ver gente sofrendo, sabe?

Quando as pessoas sofrem por amor, elas não conseguem nem fingir que são algo além da dor de amor. Elas perdem. Elas se perdem. Gente que sofre por amor tem saco pra sofrer, tem saco pra abrir o coração. As vezes eu acho que já amei assim, e ainda amo. Mas não consigo deixar que isso saia pra fora de uma vez. Eu sofro por amor, mas aprendi a fazê-lo fingindo que sou um muro, um muro que não se abala, um ser frio, um coração mediador.

Ver gente sofrer por amor pode ser um troço semelhante á perda. Porque essa é a sensação que a gente sente. Sensação de perda. Sensação de vácuo, lacuna vazia, verso sem rima, rima sem meio termo.

Sim, eu já senti isso. Acho que ainda sinto. Mas prefiro me ocupar. Deixar pra lá essa coisa de sofrer tanto por amor. Amor virá, abundantemente. Mas eu não consigo pensar nisso, vagarosamente. Acho que é por isso que tudo passa tão rápido na vida. Porque eu permito. Eu devia ser mais sólida, segura, mais eu.

Porque eu sei de mim. Confio em mim. Eu sou minha melhor amiga. Talvez eu me ame muuuito!

Sabe, amanhã ela tá de aniversário. E ainda lembro do som da risada dela, do cheiro dela, da voz e daquele beijo.

Eu lembro do abraço apertado e do ¨eu te gosto¨. Eu lembro da Manu, mesmo que ela esteja a poucos metros de mim, parece que a gente se perdeu.

Eu prefiro não dizer pra ninguém, mas meu amor remeto á ela. E dói também. Porque ninguém quer saber, e eu não quero que ninguém saiba, nem mesmo ela.

17 anos amanhã.

 

E pra mim esse amor parece eterno.

Maria Ana Maioli

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