Simplicíssimo

Árvores e Almas.

" … Há que se aprender principalmente a não jogar tudo fora, mas resolver aquilo que não tivemos força suficiente para discernir enquanto éramos apenas sementes; guardadas no ventre do solo de nossas vidas. […] A terra decompõe os corpos mortos, e devemos imitá-la quando os corpos mortos estão dentro da nossa alma."
" … Há que se aprender principalmente a não jogar tudo fora, mas resolver aquilo que não tivemos força suficiente para discernir enquanto éramos apenas sementes; guardadas no ventre do solo de nossas vidas. […] A terra decompõe os corpos mortos, e devemos imitá-la quando os corpos mortos estão dentro da nossa alma."

Rubem Alves disse que todas as coisas belas são por si só frágeis. Sim, e isso é poesia. Talvez por isso o amor ou outras coisas que se chamam pelo mesmo nome; todas contidas nessa plenitude de sensações e circunstâncias, não sejam belos. Há de existir o barroco, e desse sentimento barroco que se chama por amor, desejo, saudades, brota uma força de existir. Há que se existir…! E galhos e flores irão crescer dentro de nós, e eles não serão sempre belos, mas antes, doloridos.

Há que se embrutecer, ainda que só na aparência […], porém não se deixar vencer por amargura. As árvores são brutas, cascas grossas e troncos rijos, lutam contra o vento, se machucam com a chuva, mas precisam dela. E nem por isso as árvores e arbustos se tornam amargos. A vida embrutece a gente. Ainda sim, devemos dar frutos… Saber esperar que eles amadureçam. Presentear os bichos, as gentes, a terra, as pedras, o sonho. E ao sonho se presenteia fazendo dele realidade.

Há que se descobrir o gosto de cal depois de tanto se crer em açúcar. Há também que se aproveitar aquilo que prestou do cal… Repudiar demais, falar demais… Não, jamais. Há que se aprender a calar. Imitar a natureza, as árvores. Não perder as raízes, mas deixar-se levar com a melodia do vento; entregue, silenciosa. Há de se aprender muito, e como os sulcos nas cascas das árvores, criar rugas que não dependam do tempo, mas da vivência do espírito, do olhar.

Há que se aprender a olhar, sobretudo. Mas evitar aprender olhando para trás. Isso é prisão, e prender-se a si mesmo é perigoso. É inútil. Há que se deixar lavar as raízes. Deixar morrer rizomas podres, falsos. Há que se aprender principalmente a não jogar tudo fora, mas resolver aquilo que não tivemos força suficiente para discernir enquanto éramos apenas sementes; guardadas no ventre do solo de nossas vidas. […] A terra decompõe os corpos mortos, e devemos imitá-la quando os corpos mortos estão dentro da nossa alma.

Raquel A. Drummond

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