rápida visão
pela janela do ônibus –
lelia-purpurata
***
No fastio da tarde
– José Mattos
No fastio da tarde a seriema cantarola um desabafo
com as penas do pescoço assombrosas
se empoleirando numa última réstia de sol
No fastio da tarde um perdiz invejando a seriema
trila comprido em busca da companheira
entocada nos labirintos do capinzal
No fastio da tarde o gado se desembainha do cerrado
em fila mugindo e malhando os cascos no carreiro
rumo ao vertedouro afogar sua secura
No fastio da tarde surge um homem escarranchando a montaria
Aboiando cantigas da velha lida
Arrebanhando sua boiada imaginária
No fastio da tarde chega de longe o zunido da cigarra
adormecendo o já esmorecido dia
vestindo asas aos vaporosos sentimentos
Simples assim… *
nada como a vida no campo
em que sapos coaxam o acalanto
quando a noite em seu manto
chega plena de encanto
azul profundo pisca piscando pirilampo…
é do que me lembro enquanto janto
nesta urbe de amianto…
a complexidade
explícita da cidade
abrupta ruptura
solo asfaltado
povo desterrado
Clarice Villac
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* o título é dedicado ao amigo William Stutz
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Referências :
– “No fastio da tarde” : poema de José Mattos (Mato Grosso do Sul) :
http://www.josemattus.com.br/2010/11/no-fastio-da-tarde.html
-“flor-trevo” – foto de Bia Stutz :
http://cerradodeminas.blogspot.com/2010/11/micro-flora.html
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