Simplicíssimo

Alta Rotação

Não sabia há quanto tempo estivera dormindo. Nem se fazia alguma diferença. O certo é que não estar só não se tratava apenas de uma sensação, muito embora a escuridão impedia visão maior. O espaço era pequeno para tantos ocupantes e o cheiro não era igualmente dos melhores. Enquanto tentava em vão alguma referência que o auxiliasse em sua orientação, uma chuva torrencial começou a desabar sobre sua cabeça e corpo, que encharcam-se em segundos. “Meus Deus, o que está acontecendo?” questionou-se, mal sabendo que aquilo era apenas o começo. Um estalido e subitamente o chão e as paredes começaram a tremer e tudo passou a balançar, instalando um medo geral. Vozes ecoavam ao redor: “A Simone, a culpa é da Simone!” Mesmo com grande esforço, não se lembra de ninguém com esse nome. Também não consegue raciocinar direito com infernal balbúrdia.

Para sua sorte, uma calmaria abrupta se instalou e deu-se conta que a chuva já havia parado. Sentiu a água escorrer as poucos e fez um grande esforço para recordar alguma Simone que poderia lhe querer mal, mas foi em vão. E quando parecia que tudo havia se resolvido, o retorno da chuva anunciava o contrário. Foi questão de segundos e tudo recomeçou e parou e recomeçou outra vez, como um ciclo. Não pôde contar quantas vezes, da mesma forma que não podia evitar o choque com quem estava ao seu lado e a irritação de tantos encontrões que vinha sofrendo. “O que poderia ser pior?” perguntou-se, sem ter ao menos tempo de se arrepender de não Ter ficado quieto. Como uma grande ciranda, o mundo começou a girar sem parar e uma força sem igual o jogou para a parede lateral. Esforçou-se para respirar. Talvez num parque de diversões tudo isso fosse divertido, mas não era o caso.

A boa notícia era que tal movimento propiciava o escoamento de grande parte da água que se acumulara em si e um perfume de flor tomava conta do espaço. Seria o prenúncio do fim daquele suplício? Ao que tudo indicava sim. Tudo parou e caiu já sem força alguma para tentar ficar noutra posição. Ouviu passos vindos do lado de fora e voltou a ficar angustiado: “É ela! Ela está vindo aí!”, gritam algumas vozes em desespero, outras com tom de alívio. E a porta se abriu, entrando uma forte claridade que o impediu de ver além. E mais uma vez tomado de assalto, foi literalmente puxado pelo colarinho e arrancado para fora, onde dois pedaços de madeira o mantiveram suspenso num fio, onde ficou até secar por completo. Agora sim, seco, limpo e cheiroso, pode ver a bela senhora que antes tivera medo e entendeu que esta teria sido apenas sua primeira vez na máquina de lavar roupas.

Eduardo Hostyn Sabbi

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