Em seu livro "O Mal de Montano", o escritor espanhol Enrique Vila-Matas escreve um trecho que nos faz pensar:
"Naquela noite, em meu quarto de hotel, vendo no espelho minha triste figura, fui dizendo para mim mesmo que no início do século 21 – pensava eu, como se vê, como um livro aberto já – a literatura não respirava nada bem, apesar do otimismo irresponsável de alguns. A literatura, disse-me, está sendo acossada, como nunca tinha sido até agora, pelo mal de Montano, que é uma perigosa doença de mapa geográfico bastante complexo, pois é composta das mais diversas e variadas províncias ou zonas maléficas; uma delas, a mais visível e, talvez, a mais populosa, em todo caso a mais mundana e a mais estúpida, acossa a literatura desde os dias em que escrever romances se converteu no esporte favorito de um número quase infinito de pessoas; dificilmente um diletante se põe a construir edifícios ou, logo de saída, fabrica bicicletas sem ter adquirido uma competência específica; sucede, ao contrário, que todo o mundo, exatamente todo o mundo, sente-se capaz de escrever um romance sem nem sequer ter aprendido os instrumentos mais rudimentares do ofício, e sucede também que o vertiginoso aumento desses escrevinhadores terminou por prejudicar gravemente os leitores, afundados hoje em dia numa notável confusão."
O que fazemos nós, aqui no Simplicíssimo, trata-se de parasitismo literário? Escrevemos para nos impor, para defendermos nosso espaço, para que ouçam nossa voz? Temos direito de gritar em uma sala de concertos? Temos direito de gritar enquanto o sapateiro conserta a sola? Estamos aqui para fazer confusão?
Somos integrantes desta zona maléfica e populosa? Se somos, como devemos ser punidos? Se não somos, o que somos então?
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