Ainda lembro de tudo o que vivi
Cada lembrança me atinge em raio
Ouço Buarque, que me espanta o vazio
Dessas noites mal dormidas
Em que sacolejo na cama
Não me preenche mais a esperança
Não conservo o sorriso de criança
Prefiro a expressão de consentimento
Aquela que você tanto odiava
Guardo tudo num rancor sem lamentos
E quando me tranco à meia luz
Passo a relembrar acontecimentos
Me vem uma desculpa para cada não
Um motivo para cada sermão
Me desespero silenciosamente
Com gritos abafados
Gemidos entre os dentes
Mas esses dias você apareceu
Num abraço que me envolveu
Me surpreendi com uma vontade
De sofrer tudo novamente
De chorar as mesmas lágrimas
De gozar nas mesmas noites em claro
De sentir no seu abraço
O calor de quando te amava
E não o frio dos meus dias ensolarados
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