SOMEDOMASEEUMORRA
[Ou um capítulo com muitas vilanias para ser cômico]
Entrementes os dois anjos chegam a Somedomaseeumorra e Ló-rota pede para que eles fiquem hospedados em sua casa. Porém os anjos queriam ficar na praça. Mas Ló-rota instou para com eles afim de que fossem para a sua casa e eles foram. Chegando lá os anjos lavaram os pés (o que faz crer que foram na forma de homens e não voando) e logo que lá chegaram comeram, para que confirmassem mais uma vez o adágio “anjo vazio não pára de pé”. Tais necessidades alimentícias constantes poderiam servir no futuro para que os sacerdotes de Deus justificassem seus costumeiros apetites vorazes. Os homens-anjos ainda não se haviam deitado e eis que toda (atentemos para esta palavra), “toda” a população da cidade, do mais moço até o mais velho foram até a porta da casa de Ló-rota com uma finalidade mútua, no mínimo estranha e realmente incompreensível, da qual duvidaríamos, ainda que a aparência dos homens-anjos fosse mais atraente do que a de Marilyn Monroe no auge de sua forma.
1. Ló-rota!-gritou um dos que estavam na multidão.
Entrega-nos seus hóspedes para que tenhamos relações com eles!
Um Leitor:
Aqui o texto realmente pede que tomemos fôlego, pois é de tal forma vil, que dificilmente se encontram exemplos tão maldosos, nem mesmo neste livro que é pródigo em absurdos!
Indignações de um Leitor:
Porque, por mais corrompidos que fossem os habitantes daquela cidade, eles se sentiriam motivados a estabelecer práticas sexuais com homens recém chegados ali? Se a cidade era tão licenciosa como assegura os textos, certamente não seria matéria escassa em tais paragens, mulheres não muito castas que estivessem dispostas a cederem de bom grado a tais atividades carnais, e estas poderiam ter atributos mais atraentes que os destes dois homens-anjos. Mas mesmo que a intenção fosse justamente o contato homossexual (as mulheres que ali estavam, já que toda a população compareceu, seriam apenas platéia? Estavam de acordo?) tais contatos não deviam também ser raros entre os habitantes daquela cidade, e estes que ali estavam querendo relações com os homens-anjos, as poderiam ter conseguido facilmente em outro lugar sem recorrer à anatomia angelical. Chegamos, no entanto, à única alternativa plausível (se assim podemos chamar algo descrito em qualquer parte deste livro santo), a alternativa de que tudo era desejo de Deus que tinha um propósito para que as coisas assim transcorressem. Mas se isso é fato, que culpa poderia ter aqueles homens se eram meras marionetes movidas pelos cordões que o seu deus controla? E mesmo que a explicação seja esta do desígnio divino, isso ainda não nos faz compreender o porquê das crianças da cidade também estarem presentes assistindo estas cenas. Pois elas estavam, já que foi dito que ‘todos’ os habitantes da cidade foram até ali com aquelas intenções. Mas eis o desfecho de tal semelhante absurdo:
1. Meus irmãos! [Grita Ló-rota] Por favor, eu lhes peço. Eu tenho duas filhas virgens ainda, eu as entregarei para vocês para que façam com elas o que bem entenderem, mas não toquem nestes homens, pois são meus hóspedes.
Ló-rota era realmente um filho de uma prostituta! Olha a proposta absurda que faz o ordinário! Podemos imaginar uma conversa entre dois dos agressores:
1. Humm suas filhas? Hummhummm, virgens? Hei Salimeleca, isso pode ser uma boa troca, o que é que você acha? Duas gostosinhas virgens em troca destes homens-anjos aí.
2. Ah, não sei não Habacuquebão, pode ser que sim, mas por outro lado, você por acaso já transou com anjo”? E se o negócio for muito bom, velho, muito diferente, hem?
3. Bem, lá isso é, não é? Pensando desta forma… Mas mesmo assim, é trocar o certo pelo duvidoso, pois meninas virgens nós sabemos que são deliciosas, pois não são poucas as que temos violado. Já anjo? E se estas criaturas aí não tiverem nenhum buraco?
4. Uai tem que ter Habacuquebão, como é possível não ter?
5. Sei lá cara, eu já ouvi dizer que anjo não tem sexo, nunca ouviu não?
Entretanto, enquanto estes dois discutiam outras pessoas já tinham arrombado a porta da casa de Ló-rota para botar as mãos nos anjos, mas a ação foi frustrada por uma mágica que os mesmos fizeram e que cegou todo mundo!
1. Aí, ai, o que houve?
2. Sei lá, não to enxergando nada!
3. Não falei que devíamos ter aceitado as meninas?!
4. Mas o que é isso que eu estou segurando aqui?
5. Larga, desgraçado, é o meu instrumento que já estava preparado para entrar em ação!
6. E agora, e agora… Putz, fudeu mano!
O que podemos pensar da atitude sacana de Ló-rota? Louvá-lo por querer proteger os seus hóspedes ou execrá-lo por querer usar as filhas como escudos para os anjos, entregando-as para uma turba de tarados? Sem dúvida alguma até um assassino mutilador de suas vítimas e canibal, se inquirido sobre isso a propósito de suas próprias filhas, condenaria a atitude deste verme! Ele poderia ter implorado de joelhos aos homens da cidade ou poderia morrer lutando para salvar seus hóspedes. A única coisa inaceitável, que é oferecer as próprias filhas, foi o que ele fez. Porém não podemos o chamar de sádico, de louco ou de covarde! Pois tudo pode ser explicado pelo livro santo, já que se sabia de antemão que as filhas não seriam sacrificadas devido à interferência dos anjos. Mas mesmo assim a simples menção da proposta de Ló-rota é indigna.
Após estes terríveis episódios os anjos avisam Ló-rota do destino de Somidomaseeumorra, dizendo para que saísse da cidade com sua família, pois o bondoso Deus lançará fogo e enxofre do céu, para queimar todos os habitantes sejam jovens, crianças, velhos, mulheres, homens ou animais. Ló-rota que também era muito bondoso, assim como o seu Deus, ainda tenta salvar os seus futuros genros, mas eles não acreditam nele, o que é bem feito, pois como todos os habitantes da cidade estavam presentes na hora da tentativa de violentar os anjos, eles, então, lá se encontravam e nada fizeram para tentar salvar as suas noivas. Pelo menos uma linha de justiça nesta história, os desgraçados foram torrados pelo fogo! Mas quando a cidade começou a ser queimada, ao serem despejados do céu o fogo e o enxofre, a mulher de Ló-rota, que fugia com ele e com suas filhas, não resistiu e olhou para trás para ver os fogos de artifício. Porém isso fora proibido por Deus que a transformou em uma estátua de sal como castigo (qualquer semelhança com a mesma atitude de Orfeu na mitologia grega não é mera coincidência, mas apenas uma das centenas de incorporações de lendas mitológicas de outras culturas às lendas judaico-cristãs). Convenhamos que perto dos pecados da cidade ela não merecia uma coisa destas apenas por olhar os fogos, e, aliás, não sabemos se Ló-rota a avisou que não podia olhar, pois não consta que a tivesse alertado. E talvez não o tenha feito mesmo, propositalmente, pois assim matava dois coelhos com uma única cajadada: livrava-se da mulher e ficava sozinho com as filhas virgens. uma vez que se verá mais à frente, neste livro santo que narra atitudes santas de santos homens, que as meninas embebedam o pai e cada uma, em noites sucessivas, se deitam com ele (pois não havia mulheres para procriar e dar descendência ao pai delas) O velho santo estava bêbado o suficiente para não saber o que estava fazendo, mas não tanto para que não pudesse transar com as próprias filhas. Etâ Nóis!
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