Chego na rua de casa, os cachorros da vizinhança sorriem para mim. Por algum motivo, não tenho mais medo dos marginais daqui. Sinto como se mandasse em algo, mas entro em casa e ela parece querer me cuspir de dentro dela. Não acho os talheres, não sei mais mexer no controle remoto, as roupas não estão no lugar, tenho que desfazer as malas, botar a roupa pra lavar, abrir as janelas, sair aos sábados, dar uns telefonemas, pagar contas, fazer outras, ir no correio, na farmácia, na zona… Eu estava novamente na vida rela, todos os sonhos da cidade grande se acabaram.
Bicho-do-mato, quando vai pra cidade grande, não tem grana pra andar de táxi. Anda dez, vinte quilômetros num só dia sem se dar conta disso. Mas na sua terrinha natal, vai na festa da esquina de carro, para ostentar a riqueza que acha que tem, para se achar grande bosta perto dos mais fodidos. Solidão na cidade grande faz sentido, andar ao lado de milhões de fodidos procurando emprego, descanso, buceta, é normal. É normal estar quebrado onde o custo de vida é alto, é normal não querer sair por medo de ser assaltado mas, numa cidade pequena, todo mundo aponta, todo mundo sabe seu nome, seu apelido, suas broxadas, suas chupadas, pra quem você deve, pra quem você deu. Solidão no vigésimo andar, ouvindo os carros passarem, faz você se sentir o centro do universo. Solidão numa rua deserta, faz você achar que tá no fim do mundo. E ninguém nunca vai te visitar. Em casa novamente. Vou ter que me adequar a isso. Um lugar onde seus amigos fazem bandas, festas, acampamentos e não te convidam. Vez ou outra te ligam, perguntando se você tem maconha, como se você tivesse cara de traficante. Raramente alguém irá lembrar de você, todos têm vários amigos e todos moram tão perto. Na cidade grande, seus amigos moram longe, muito longe, mas vocês só têm um ao outro. Você pode fugir, se esconder, é um em um milhão, mas sabe onde achar seus conterrâneos, seus amigos, seus vícios.
O rock saiu do coma, virou purpurina e está órfão outra vez. E nunca mais será o mesmo.
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