“O… cidadão Rodrigo Dall’Alba acordou antes do despertador, o que não era de costume. Cumprimentou a Sra sua mãe e os demais membros da casa e comentou a falta de leite. Relatou ter dormido mal, como já vem acontecendo. Encaminhou-se para seu local de trabalho pelas mesmas ruas, sendo que caminhos alternativos apenas o atrasariam apesar de haver tempo quase suficiente para que chegasse ao seu local de destino. O 'quase', explica o mesmo, é devido ao curioso fato que os Srs já devem ter reparado que, não importa o tempo que se tenha para sair de casa, é de costume sempre sair “em cima da hora”. Cumprimentou, com muita simpatia, as meninas que com ele trabalham e as demais funcionárias do local, podendo-se encaminhar, então, à sua sala. Sala esta, que fica dentro da cozinha, ao lado da dispensa e antes do banheiro feminino. Mas ainda assim, uma sala. A mesa não tem gaveta, mas, ainda assim, é uma mesa. Observou que as paredes não vão até o teto. Pediu licença e então se pronunciou: ‘Pergunto eu, caros leitores, é possível alguém trabalhar com uma parede que vai somente até a metade de outra parede? E a porta que aqui está e os Srs podem ver, ninguém a bate antes de entrar!'. Claro que, se a mesma estivesse fechada tal fato provavelmente não ocorreria. O Tico pediu o uso da palavra, o qual disse ao Teco: 'Lembro-me de uma história, que os Senhores todos devem conhecer, sobre um cachorro da raça Vira-lata, se não me engano. Cãozinho este que adentrou uma igreja por encontrar a porta aberta!’. Relatou que logo a chaleira começaria a apitar e a faxineira ligaria o rádio, atrapalhando seu trabalho que era ouvir. Um papagaio que repete, mas ao invés de falar, digita. Digita e da uma melhorada na coisa. Logo chegaria o entregador do 'jornalzinho diário' de apenas oito páginas. Ressaltou que o horóscopo tem dado certo e solicitou ofício ao Sr. Pai de Santo, parabenizando o mesmo pelo trabalho exemplar que vem desenvolvendo. Foi alertado ‘porsigo’ mesmo que não se dispersasse tanto e sentasse adequadamente, pois logo poderia ser surpreendido por alguém que chegasse sem bater à porta. Mas quem seria o desgraçado que inventou a tal chaleira que apita? Dando continuidade, prosseguiu com a redação da ata. Quais seriam as novidades da Câmara, Tribuna, Assembléia, Plenário, Casa de Leis, ou a Buceta Peluda que aquilo costumava ser chamado? Redigiu daquela vez como se fosse a última (mas era só a primeira): O Vereador de Quatro Nomes divagou a respeito de uma tal ‘sanção’, ‘Sansão’, ‘Sazon’… Pela ordem, o Vereador de Sobrenome Importante fez uso desta Buceta Peluda e viajou na maionese, com bastante abobrinha, repetindo-se e prolongando-se mais do que se poderia-se imaginar-se. O Vereador Tal ensinou-me novas palavras de utilidade pública em prol da sociedade. O próximo a fazer uso desta Casa de Orates foi o Senhor do Contra, que discorda de tudo e de todos. Este último, fora o que mais dera serviço. ‘fora’, conforme nos explica mais tarde o redator, é uma palavra de fora do seu foro vocabulário. Fora empregada apenas como artimanha para dar ênfase aos costumes corriqueiros que o fera tem em escrever firulas floreativas, e promete que fará mais desta numa próxima ocasião, desde que não fira nenhuma regra gramatical, pronominal, verbal ou conjugal e que esteja de acordo, em gênero, número e grau com o sujeito a fazer uso da palavra ao microfone, a fim de discursar, explanar ou, simplesmente, encher, preencher ou rechear linguiça no parlamento, ouvidoria, Casa de Shows (ou Eventos) e similires. Não tendo mais nada a declarar, tal ata não foi encaminhado à votação nem discussão – embora tenha passado por inúmeras revisões -, nem usado nenhum parágrafo, como manda a lei, despede-se e vai dormir. Cerca de duas horas a mais do que metade da comunidade em geral, e duas horas a menos do que a outra metade, sem distinção de cor, credo ou classe social”.
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