Uma vez aconteceu isso e o Rafael me perguntou se existia poesia amante.
Pois olha, existe, sim.
Poesia amante é aquela que aparece pra te salvar quando você fica a semana inteira elaborando a idéia e, na hora de escrever, não sai nada.
Poesia amante é a carta na manga, serve pra fazer ciúmes às outras poesias que insistem em fugir do poeta. Quando a poesia buceta quer dar uma de cu, por exemplo. Ou quando a poesia casamento enche o saco. Acontece assim: você lapida seu poema com as melhores palavras e sentimentos e, quando vê, ele está por aí, de mãos dadas com alguma rima mal feita, um refrãozinho qualquer, sem feeling,sem técnica, mas do tipo que “levanta o bloco”. Tem gente que faz questão de recitá-la em praça pública, tem gente que a guarda na gaveta.
Tem aquela que é entoada pelas multidões mundo afora. E não adianta reclamar que você passou horas e horas escrevendo e agora vem um monte de gente sem mais nem menos e canta a obra que é sua. Poeta não pode ter ciúmes. Poesia de bêbado não tem dono mesmo. Poesia bêbada, então, nem se fala.
Poesia ménage a troi é outro problema grave. Não é sua, nem do outro… fica a sensação de que a pior parte ficou pra você… Ou de que seria melhor ter feito tudo sozinho. Ou qualquer outra sensação estranha e grudenta.
A poesia amante é tão efêmera quanto à poesia boquete e serve apenas para estragar ainda mais a poesia casamento. Ou, para fazer com que sintamos saudades dela. E é importante voltar pra ela antes que a poesia punheta acabe com nossos punhos
Poesia amante pode não ser tão boa quanto a oficial, não é a de nossos sonhos. Mas à essa altura da vida é o que da pra fazer.
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