Simplicíssimo

Rê Voltoso

Eu não quero ser amado,
não quero o seu amor
quero o ódio e o desprezo
e medo. e rancor

Pega
o seu amor e enfia
Pega
o seu carinho todo
e engole. e gargareja e cospe
e depois me oferece
em copo de plástico
em latrinas usadas

Quero
sua metade mais porca
seu futuro sem ideais
sua pele morena
mastigada pelos outros
seu corpo nu
deitado em meus lençóis
na minha cama em chamas
chama
de corno, vagabundo, viado
fica
de quatro, do avesso, de lado

Pois
Já fui um anjo. um santo. um deus
mas caí
e vivo
entre os ratos
nos restos, nos escombros
vivo
no canto da boca
não vivo,
sobrevivo
sobre-existo

me pisa, me chuta, me arranha.
me larga
eu vou me deitar com qualquer um
não quero
não quero mais sentir
quero apenas
agir

Rodrigo D.

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