Desde Janeiro o tempo não passa
Trancado no quarto, jogado às traças
Olho a chuva cair na vidraça
Viro outro copo e depois outra taça
Tentei te encontrar mas sempre alguém me ultrapassa
Esse bar é uma selva e você é a caça
E quem não sabe a regra, uma hora ou outra, dança
Pensei em algum truque, alguma trapaça
Mas não sou desse jeito, não faço pirraça
Ponho a mão do bolso e tiro da calça
Mais um cigarro, esse pobre comparsa
Que comigo observa a sua conversa
Se cai uma lágrima, a gente disfarça
O maço vazio a gente amassa
Tentei esquecer mas não importa o que eu faça
Me vem à cabeça aquela lembrança,
Quando no meu cabelo você fez uma trança
Naquela noite no meio da praça
Os outros me olhavam com olhar de vingança
E eu me ofereci para ir à sua casa
O seu sobrenome de origem russa
Que eu até pensei em por em nossa criança
Mas quem sonha demais sempre cai em desgraça
Preciso de um tempo pra minha cabeça
Pois até essa dor já perdeu sua graça
E o sonho se foi, se desfez na fumaça
Vejo um futuro sem muita esperança
Sou quem acredita mas nunca alcança
E se obriga a crer que um dia isso passa
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