Eu gostava de ver. Sentia uma espécie de gozo, que só experimentava quando via o sangue escorrendo pelo pescoço rasgado. O capim ficava salpicado de um vinho forte. As folhas dos eucaliptos, que secas, eram trazidas pelo vento, se borravam de sangue. O brilho que sumia, aos poucos, dos olhos amendoados, arrepiava-me. Eu gostava daquele espetáculo. Não era por mal. Eu não sabia que era um menino mau. Ficava ali, acocorado, bem perto, vendo a ovelha dependurada pela perna. Eu não sabia muito bem o que acontecia, não imaginava que era ela, a vida, que se esvaía. Hoje em dia é bem melhor: além de ver o sangue que escorre, posso, às vezes, sentir a alma saindo dos corpos. Não via isso nas ovelhas: bicho não tem alma…
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