HAVIA UM bolo sobre a mesa. Redondo e pequeno. Eles cantaram parabéns e eu soprei as velinhas. Mamãe cortou o bolo. A primeira fatia pra mim, a segunda pro papai e a terceira e última pra ela. Papai comeu de pé, escorado na parede de madeira, ao lado da cristaleira, e bebeu cerveja. Mamãe comeu à mesa comigo e tomamos guaraná. Depois eles foram pro quarto e trancaram a porta. Acho que sentiam dor. Gemiam. A dor devia ser muito forte. Se contorciam na cama. Dava pra escutar o ranger das molas do colchão. Eu fiquei sentada olhando pro bolo com as mãos como que em oração, postas no regaço do vestidinho florido. Havia cinco velinhas no bolo. Era março de 1977.
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