Horas que se passariam bem mais depressa do que se passou a noite: sem sono, eufórico. As imagens que me vinham à cabeça eram desde a glória da vitória em Porto Alegre até a desgraça de uma goleada e a transformação em chacota da nossa excelente campanha no campeonato regional. Nosso treinador, professor Davi, mobilizou-se e conseguiu organizar viagem, almoço e jogo. Cabia a nós lhe retribuir essa oportunidade. Tudo estava perfeito. O sono durante a viagem é que me pegou de forma avassaladora. Foram horas seguidas dormindo até chegar próximo à capital gaúcha, naquelas horas, que não se sabe porquê, você desperta e é o momento exato para que isto ocorra. A visão do porto e dos prédios do centro a partir da ponte sobre o Rio Jacuí me fez arrepiar, com um calafrio percorrendo a espinha.
Após entrarmos na cidade, o professor Davi pediu para o motorista ir até o monumento dos açorianos, entre a Avenida Borges de Medeiros e a primeira perimetral, que até hoje não sei o nome real. Ao chegar descemos do ônibus e corremos pela grama, como crianças de 12 anos que éramos. Nosso treinador, por sua vez, dirigiu-se até o monumento e ficou lá a observá-lo. Eu como capitão da equipe, aproximei-me e fiquei ao seu lado, observando aquela obra grandiosa construída pelo homem. Aos poucos todos dirigiram-se até nós. Alguns ficaram quietos olhando, outros cochichando e correndo sob sua base. Todos olhem esta magnífica obra de arte, forte, rígida, resistindo há anos e anos de intempéries e, ainda assim, continua firme com a sua fronte erguida como que buscando novos desafios. É isso que espero de vocês hoje à tarde: união, cabeça erguida. É por isso que esse monumento resiste a tudo, inclusive vocês tentando movê-lo. Ele é feito de inúmeras peças que se entrelaçam e têm o mesmo objetivo. Falou, enfim, o professor.
O silêncio daquele momento inesquecível se estenderia até nossa volta a Arroio Grande, embora estivéssemos todos com um sorriso nos lábios.
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