MUITO BOM DIA!
Sentado, no ônibus (sentado! Por mais incrível que possa parecer), fico olhando a cidade passar rapidamente, sem prestar muita atenção. Nem sei por onde andam os pensamentos…
Chegamos ao terminal em que vou descer e trocar de linha.
O motorista levanta-se:
— Este carro vai recolher. Um bom feriado a todos e até segunda-feira.
Mais coisas em minha cabeça.
Já no ônibus da linha seguinte (agora de pé. A fortuna não costuma ser muito generosa comigo), fico pensando nas palavras daquele motorista, lá no terminal.
— Quem será ele? Qual será sua história? Por que será que disse aquilo? Será que ele sempre faz assim? — Pergunta um dos meus eus.
— Calma, calma, calma! Uma pergunta de cada vez — protesta o outro.
— Na verdade essas são perguntas menores, eu acho. O mais interessante agora é o porquê disso.
— Do que ele disse?
— Não. O porquê de eu ainda estar pensando nisso.
— Como assim?
— Oras. Por acaso não é assim que deveria ser sempre, em todo lugar, entre todas as pessoas? Quer dizer: por que a cordialidade virou algo tão exótico que chama a atenção?
— Talvez porque a dureza do dia-a-dia e as pressões em torno do tempo e por todo tipo de resultados foi fazendo com que as pessoas ficassem mais frias e deixassem de lado essas coisas.
— Desempenho, desempenho e desempenho…
— É bem por aí — concorda ele.
— O pior é ver que isso já não causa mais estranheza pra ninguém.
— A grosseria é a regra, os bons tratos são as excessões.
— Tanto é, que até agora você está pensando naquele cara, né?
— No que ele disse, no que ele disse.
— É verdade.
— Ser afável é coisa de mulher. Aliás, de mulher não; é coisa de viadinho, porque nem mulher mais pode perder tempo com essas frescuras.
— É verdade… é verdade — concordo.
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