Só buscamos nosso próprio bem, por sabermos dos males e os temermos. Portanto, ao optarmos pelo caminho da satisfação pessoal, devemos, ao menos, pressupor a existência da insatisfação, já que só podemos imaginar o que conhecemos ou o que nosso poder de criação nos permite compor tendo sempre como ponto de partida alguma referência total ou parcial previamente adquirida, uma vez que nada provém do nada.
Mesmo quem aparentemente prefere o sofrimento busca a felicidade, pois a encontra ali mesmo, na própria desventura. Isso é facilmente de ser observado nos indivíduos carentes de atenção que almejam conquistá-la através de relatos, muitas vezes pormenorizados, de suas próprias agruras, esperando, com isso, a compaixão de seus próximos.
Sofremos com as muitas adversidades encontradas pela existência, sofremos na busca alucinada pela felicidade, sofremos na angústia de perder a felicidade tão duramente alcançada e igualmente sofremos na opção da infelicidade como ferramenta para a felicidade.
Entre a felicidade e a infelicidade, as duas únicas opções possíveis (infelizmente), optamos sempre pela primeira, impulsionados pelo instinto de auto-preservação, mesmo que empregando o sofrimento — ao mesmo tempo causa e conseqüência da segunda — como caminho alternativo.
O que nos impulsiona é o desejo de superar o sofrimento, dele saindo ou desviando, pois esse anseio é anterior à própria busca pela felicidade, uma vez que o homem pode viver sem prazer, mas sucumbe ante o sofrimento, este sim, seu maior pavor.
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