Simplicíssimo

Sou um chato e daí?

Admito que sou um chato.
Ao menos sou um chato honesto. Quantos chatos, você conhece, admitem a própria chatice?
E até gosto de merecer esse título; afinal, são quarenta anos desenvolvendo a técnica, buscando a perfeição.
E hoje percebi que alcancei um grau de aprimoramento tal, que mal eu mesmo agüento minha chateza.
Provavelmente não haja mais a quem chatear, fui o último baluarte de resistência… depois disso só mesmo Deus, mas Ele, criador de tudo, inclusive da abodegação, não se chateia (eu acho), então não conta.
Nesse domingo fecal (e no geral todos os domingos o são), com um tempo fecal (não fez frio, nem calor, não choveu nem fez sol, não foi ensolarado nem nublado, não foi bom nem ruim, não veio nem foi…), do tipo que era melhor nem ter acontecido, porque parece mesmo nada ter acontecido, cheguei, mergulhado em minha chatura, à conclusão de que está na hora de fazer o caminho reverso. Isto é, está em tempo de buscar o oposto à pentelhice; é hora de procurar ser uma pessoa melhor, mais agradável a todos em volta, mais amável, mais sociável (devo admitir não ter um conhecimento muito claro do que possa ser isso).
O problema é que não sei quantas décadas levarei para chegar a um ponto equivalente ao que alcancei no extremo oposto, onde estou agora.
Considerando-se que eu tenha mesmo alcançado o grau de excelência em chatice, levando em conta que foram quatro decênios trabalhando a amolação e que, ao que tudo indica, seja mais difícil ser uma boa pessoa e tal, então não sei se ainda terei tempo suficiente para chegar ao apuro de uma nova condição.
Chato que sou, não poderia aceitar ter deixado o conforto de uma posição privilegiada para cair em meio à lama do caminho à uma nova morada.
Melhor não arriscar. Prefiro gastar minhas energias mantendo a sublimidade dessa minha qualificação.

Leandro Laube

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