Simplicíssimo

Algumas Ponderações

(Ponderações relacionadas à coluna anterior)

– Que o homem é o lobo do homem, sim, claro, óbvio. Que abrimos mão do alegado direito natural que teríamos pela sobrevivência, estabelecendo as leis e os sistemas de governo, é concordável. Agora, que há uma “natureza humana” definida e imutável, e que esta é maléfica, estúpida, reprovável e asquerosa em todos os sentidos, como apregoava a época Barroca e, por conseqüência, Thomas Hobbes e vários outros teóricos deste então, nunca, jamais!

– “Natureza Humana”: A desconheço. Ela, provavelmente, não existe. Padrões definidos de comportamento não suprem a totalidade da questão. Sei apenas que o mal é infinitamente mais sedutor e louvado pela sociedade e o poder, fonte de toda ruína. E porque o “mal” sobrepuja o “bem” no mundo atual? Porque ele é todo construído sob a fundação da competição, da falta de escrúpulos, tornando esta natureza maléfica intrinsecamente adequada para o seu funcionamento, suas ideologias e objetivos.

– Recorro ao que esclarece meu amigo Janus Mazursky, filósofo de São Paulo, num antigo artigo seu: “No século XVIII, na França – portanto quase 200 anos após Hobbes, e igualmente depois do ataque do embusteiro inglês Adam Smith – coube a J.J. Rousseau dar uma guinada total no conceito de “natureza humana”. Para Rousseau o homem não é bom nem mau por natureza, pois não se pode observar o homem em estado natural. Pode-se observar o homem mais ou menos socializado, como o burguês e o selvagem, por exemplo. O que se pode verificar a partir da comparação entre eles é que a sociedade indubitavelmente torna o homem mau. A posteridade acabou vulgarizando o pensamento de Rousseau sem as devidas nuances e ressalvas, estabelecendo a versão de que “o homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe”.

 – E ele continua: “Marx, no século XIX, procurou esclarecer o verdadeiro status do conceito de “natureza humana”. Para Marx o homem não possui uma “natureza humana” abstrata, imutável e a-histórica, que seria a mesma em qualquer sociedade e em qualquer época, para ser imputada “boa” ou “má”. O homem é um ser que se origina na natureza, mas constitui um reino à parte, que se torna humano e se constitui no processo da História. O Homem se define por uma condição humana historicamente mutável, que produz homens bons e maus em quantidades variadas conforme as especificidades das formações sociais determinadas”.

– Quanto nos é difícil e estranha a coragem! Quanto somos apegados ao passado, às tradições! Quanto tememos o crivo da sociedade! Quanto somos mesquinhos e mutiladores de nosso próprio espírito! A que, afinal, devemos prestar contas? O que temos a perder? Digo: nada. Digo: a ninguém.

– “Fé nas coisas!", dizem os tolos, "morte à fé!", dizem os sábios.

– Quem de nós não pratica a egolatria? Nosso ego é o que temos de mais importante, de mais verdadeiro e íntimo. Sufocá-lo, negá-lo, tentar se dissociar dele por meras convenções sociais configura-se como um erro inadmissível e fatal. Aplicar esta mudança desnecessária de epicentro, tentar achar algo que não está em nós para só aí darmos seqüência a existência é a base de toda ruína individual. Nossa idiossincrasia deve ser nosso bem mais valoroso, cultivado com mais carinho e atenção.

– Posso odiar a hipocrisia, a mentira, a luxúria, a ignorância, a pobreza, a pestilência, mas o que não posso suportar, o que realmente me atormenta, é o desperdício! Eis aí o que de fato odeio! E o homem atual nada mais que é o homem do desperdício! – Por fim, é medonho constatar como o conforto, o pudor, a segurança que as máscaras, falsidades e convenções nos proporcionam nos são tão caras! Devem os superiores sentirem-se culpados por sua infinitamente clara superioridade? Devem eles adotar a pseudo-humildade a troco de aceitação? Ora, quão estéril e patético é o nosso julgamento condicionado! Viva os estóicos da alienação!

Maurício Angelo

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