Por mais barulho que tenha feito com seus livros anteriores – “Buceta” e “Sexo Anal” (download aqui) – foi somente em 2010 que conheci o trabalho de Luiz Biajoni, começando justamente pelo Sexo Anal (opa!), que contabiliza mais de 10 mil downloads na internet. Li num pulo só. Em poucas horas tinha devorado integralmente aquela estória policial peculiar.
É Rubem Fonseca, Bukowski e Henry Miller. Três nomes de várias referências possíveis. Difícil imaginar alguém que consiga ler Biajoni sem ser desta maneira: dum gole só.
Biajoni não alivia. Não usa meio-termos. É bruto e escancarado com frequencia, vai direto no nervo. Tudo com um humor afiado, observações cortantes e uma aparente simplicidade enganosa. É cru, mas bem temperado. Traça retratos secos, desilusões genuínas, desgostos e pequenos prazeres.
Investiga a mente humana com uma lupa de boteco. No melhor sentido possível. É aquele bar popular, lotado, com cerveja trincando, petiscos fumegantes e papos inflamados. É o flerte aberto. A passada de mão sacana. O swing com um canivete na mão.
“Elvis & Madona” é inspirado no filme de mesmo nome de Marcelo Laffitte, recém-lançado em festivais e que tem Igor Cotrim fazendo o travesti Madona e Simone Spoladore como a lésbica Elvis. É essa estória de amor improvável (eufemismo), passada nos becos, nos inferninhos, apartamentos e na orla de Copacabana que o livro aborda. Primeiro, inverte o caminho tradicional migratório da literatura pro cinema. É realmente assustador como o argumento de Laffitte casa tão bem com a atmosfera de Biajoni.
Falar só em “estória de amor” é reducionismo. Tráfico de drogas, corrupção policial, jornalismo, vidas amargas e cambaleantes, tabus diversos. Uma mente sangrando na sarjeta. Biajoni é urbano, pesado, tão ácido quanto doce e bem-humorado. Passagens leves e românticas convivem com uma linguagem hardcore e uma tensão constante.
Bia expõe na nossa cara todo nosso preconceito, acomodação, mediocridade. Toda a personalidade tacanha e hipócrita da burguesia – que, afinal, somos nós. Direta ou indiretamente, é um desafio. E por mais fora do normal que seja, dá para imaginar plenamente a vida de Elvis e Madona num Rio de Janeiro propositadamente caricato do submundo.
O traveco bobalhão que já fez muita besteira e vive de salão de beleza e shows esporádicos na noite. A lésbica que veio do interior, trabalha de entregadora e quer ser fotógrafa. O nome dos personagens, que remete à glamour e fama, não é uma ironia gratuita.
Não espere nada trivial. Biajoni mexe com o que é ordinário e cacete da maneira mais interessante, azeitada e direta possível. Sempre bom ter alguém que seja capaz disso por perto.
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