Não tenho mais tempo
para crises, depressões
e menstruação
para declarações de amor
sussurros
corridas em praças
cheiros, gostos
alianças
para brigas, joguinhos, ciúmes
máscaras
compreensão
satisfações
criancices
já não interessa o que possa ocorrer
qual personagem assumir
não me importa mais nada
que peguem todo seu amadurecimento fajuto
suas poses de intocáveis
suas certezas
e as dúvidas
e as teorias
e o orgulho
a pequenez
a limitação
as ceninhas
a inveja
a competição
as vidas confortáveis
e enterrem junto com os ossos
podem pegar também as montanhas
seus rios e lagos
sua moral
suas tradições
seus amigos acéfalos
seus cães barulhentos
e o povo canhestro
e as vacas e o leite
e a cultura barata
e o aprendizado que nunca tiveram
e os autores que jamais vão entender
coloquem junto
a chuva, o queijo
o sotaque risível
e o surto da dengue
e seus teatros e museus
suas praças e bares
e as igrejas
e os santos
e o machismo
e a estupidez
e a burguesia inerente
e todo o desespero
a histeria
a apelação
o pote de lama
o sorvete e os filmes
os clubes de futebol
e a frieza
e o achismo
não tenho mais tempo
para cuidar de bebês
para explicar-me
para levar em casa
e para ser perfeito
estou cansado da opinião rasa
das cobranças infundadas
dos surtos
da mesquinhez
da audácia
do provincianismo
e podem jogar no abismo todo o estado
porque já não me atrai alimentar carpas
pois a única coisa que quero alimentar é meu ego
e que ele enferruje em paz
engolindo todo o aço que houver
e todos os recursos naturais
quão breve é agora?
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