Simplicíssimo

H.M.

Hermann olhou através da porta. Era de uma aridez absurda. Esbofeteou-se. Três vezes. Detestava formular coisas com mais de três linhas. A abundância lhe era estranha. Incomodava. Quase um insulto. Valium com champanhe era seu cardápio predileto. Antigamente ele até tentava disfarçar. Hoje não mais.

 

Se precisasse dissimular, dissimulava. Se a hipocrisia lhe desse retorno, o faria. Se a omissão fosse apropriada, omitiria. Alguns o chamavam de cínico. Imbecis. Era justamente o contrário.

 

O estado natural o agradava, mas estava preso ao concreto. Simbologias. Tinha acabado de trair sua esposa. A amava verdadeiramente. Hermann não era Marcos. Marcos não era Hermann.

 

Marcos acreditava em quase tudo que dizia. Era demasiado honesto, bom, franco. Condenado à forca, em suma. Marcos jamais insultaria sua mulher. Abraçava a covardia, e sabia disso.

 

Heitor não conhecia nenhum dos dois. E não se assemelhava a nenhum deles. Estava em meio ao gozo pleno, ao júbilo inexplicável. Encontrara a razão de toda sua existência.

 

 

E tudo que recebo é o silêncio.

Maurício Angelo

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