Soul. Café. Ressaca. Memórias.
Desde a primeira vez que a vi, há três anos atrás, sempre achei que os nossos filhos seriam as crianças mais lindas do mundo. Ontem tive a confirmação. Não importa quanto tempo passe, certas coisas nunca mudam. Já não são as mesmas, com freqüência se tornam diferentes, mas a essência permanece, está lá. Transformam-se. Porém, ficam.
É um pensamento engraçado. Quase bobo, frágil. Embora perto por tanto tempo, ela sempre me foi inacessível. Distante no sentido de nunca chegar a imergir dentro de sua personalidade. Descobri-la. Saboreá-la. Uma relação amistosa e agradável. De pouca intimidade, nada além.
Histórias, vidas, temperamento, idéias, origens: completamente diferentes. Em verdade, não nos conhecemos. Provavelmente nunca daríamos certo.
Mas que os bebês seriam perfeitos, ah, como seriam!
Posso ver a face rosada, os olhinhos claros e brilhantes, as irresistíveis bochechas, o sorriso encantador. Seriam docemente espevitados, curiosos e vívidos como a mãe. Introspectivos, observadores e chatos como o pai. Interessante harmonia. O equilíbrio ideal.
Ela ficaria ainda mais linda grávida. A deixaria constrangida com minha veneração. Teria seus pacientes, eu, meus escritos. Não preciso de muito. Dê-me uma quantidade razoável de dinheiro, uma infinidade de músicas a disposição, tempo para escrever e outras poucas coisas. O necessário para alimentar o corpo e a alma.
Estaria ao seu lado no parto. Daria todo apoio psicológico possível. Exercitaria a paciência e o cuidado. Acordaria à noite sem problemas, deixando-a dormir apenas pelo prazer de admirar seu sono. Ninaria as crianças. Entregaria a mamadeira no ponto. De madrugada, apenas de hobby, cantaria baixinho com nossa filha no colo. E para ela, também, sempre que quisesse. Daria toda espécie de carinho que tenho dentro de mim, nos momentos adequados para cada um. Observaríamos, felizes e encantados, o desenvolvimento do belíssimo filho que geramos. Um casal realizado.
Dentre os inúmeros tipos de amores, paixões, sintonias, motivos, atrações e empatias que podem existir entre duas pessoas, esta é apenas uma delas. Unilateral, acho eu. Mas não dói, em absoluto, pois não existem motivos para tal. É algo tão puro, idealizado e utópico, que me restrinjo a refletir de longe, saboreando as possibilidades. Só me traz boas sensações, e é o bastante. Sou grato por isso, porque, desde sempre, é natural. Gostosamente irresistível no ideal, e talvez seja melhor que permaneça assim.
Há impressões que nos são mais caras serem destruídas.
E há pessoas que não precisam fazer absolutamente nada para conquistar nosso carinho, despertando belos e gratificantes sentimentos. Ela, esta querida e deliciosa caucasiana, tem um lugar específico e diferente em minha existência.
Espontâneo, é assim que sou. Do mesmo jeito que todas as coisas espontâneas são melhores que as fabricadas.
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