A maioria das pessoas tinha plena certeza de que ele estava no controle. Aquele homem aparentava uma serenidade, uma lucidez e um domínio tão grande de suas constituições que ninguém podia imaginar o contrário. Era ele a quem recorriam quando desesperados. Quando necessitavam de conselhos ou conforto. Raramente se alterava. Não demonstrava grande vulnerabilidade ante as vicissitudes da vida. Sabiam que podiam contar com o seu apoio, sua opinião. O buscavam justamente porque exalava tremendo auto-controle. Poucos conseguiam enxergar além, e aquilo o aborrecia.
De todos que travava contato, era difícil distinguir algum que podia adentrar em seu ser com verdadeira força e atração. Estava cansado daquele respeito e reverência velada. Ao contrário, queria alguém para admirar.
Onde estavam?
Tinha surtos de desespero freqüentes. Arroubos de desencanto e desilusão – não porque esperava muita coisa do mundo, exatamente, mas uma consciência tão crítica e aterradora da desgraça que acabavam por bloquear seu cérebro, e sua energia vital. Resignara-se. Continuamente. Passou a ser acometido de profunda letargia. Sabia que estava morrendo. Definhava de forma lenta e dolorosa. Sabia que ao estar com lixo, com seres incomodamente limitados, estúpidos, rasos, doentes e cerrados em sua própria mediocridade, intransponível num primeiro olhar, também se tornava um pouco igual a eles.
Aquele desconforto, sabia bem, jamais iria desaparecer. O estar deslocado, em agonia, obrigado a lidar com situações, pessoas, contextos e acontecimentos desprezíveis, vis e pobres em sua essência, fazia com que a miserabilidade de sua alma, no sentido mais seco e não metafísico possível, crescesse amargamente.
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