Simplicíssimo

Hoje (6)

2007-01-06

Como já vos disse no final do último episódio, ando na pista
certa da tintura de iodo. Mal cheguei a casa, tomei um banho e troquei
de roupa para me livrar da porcaria; mexer no lixo não é nada
saudável. Porém, os “merdia” não se cansam de chafurdar na merda,
até parece que quanto mais porca e sanguinária for a notícia, mais as
pessoas as consomem ou devoram. Eles estão, porém, ao serviço da
máfia, que pretende transformar as pessoas em simples consumidores,
mesmo que só consumam merda. Pessoas e porcos poderiam, para a
máfia, passar a partilhar os mesmos recintos, o que interessa é que
comam toda a porcaria que se lhes der, a reciclem e transformem em
ouro para os senhores da máfia.
De resto, eu já falei deste assunto dos porcos neste meu plágio ao
padre António Vieira, que vale a pena recordar, o Sermão aos Porcos:

Caríssimos porcos!
Olhai, caros porcos, o que fazem os humanos. A vós, a
quem eles chamam porcos, põem-vos a viver em pocilgas, atiramvos
com restos dos seus manjares e, depois, quando estais
conformados e adaptados à porca vida que vos dão, levam-vos
para o matadouro, matam-vos e tornam a refastelar-se com aquilo
que vós transformastes em delicioso pitéu. Mas não julgueis que
o fazem só a vós, porcos, fazem-no também aos seus semelhantes.
Por isso, podeis estar tranquilos que vós, sendo porcos, não fazeis
tanta porcaria como eles, pois nunca vi um de vós saciar-se com a
carne do vosso semelhante, como vejo os humanos fazerem, uns
com os outros.
De vós, porcos, aproveitam tudo: a pele, a carne, as tripas,
o sangue. Fazem o mesmo, aliás, a todos os seres vivos. Mas não
vos apoquenteis porque, indo por esse caminho, os homens
acabarão por desaparecer da face da Terra, devorando-se
reciprocamente. As suas armas de destruição massiva são
poderosíssimas e os seus argumentos, a que chamam ideologias,
igualmente poderosos. Tão poderosas são as armas que
conseguem limpar, num raio de trinta ou mais quilómetros, todo
o ser vivo que nesse círculo se encontre (nem o círculo sagrado
respeitam); tão poderosas são as ideologias que, uma vez
disseminadas, levam a genocídios terríveis em que milhões e
milhões de seus semelhantes são mortos como porcos, e sem que
isso lhes cause a menor repulsa.
Nunca vi um porco sentir-se superior a outro, ao ponto de
provocar a morte de milhões do seu género. Quando muito vós
competis por uma fêmea. Mas os homens não se contentam só
com isso, querem muito mais. Cada homem gostaria de ser o dono
de todos os outros. Sabem porque vos chamam porcos? Porque
sabem melhor que vós, o que é a porcaria. Quando não estão
absortos nas porcarias das guerras, passam o tempo em bacanais,
vede as suas orgias nocturnas (e diurnas), vede nas televisões,
jornais, internet, tudo serve para satisfazer o seu desejo de
porcaria.
Mas os porcos sois vós!

Retomando o fio à meada, depois da aventura desta tarde, em
que descobri um frasco vazio de tintura de iodo de que nem uma
gotinha do milagroso líquido consegui aproveitar, senti-me deveras
cansado e fui me deitar. Ainda bem que o fiz, acordei há pouco e vou
aproveitar para procurar a tintura à noite, longe dos olhares indiscretos
dos transeuntes, e antes da recolha do lixo. Porém, a grande vitória de
ontem consiste no facto de o frasco ter a etiqueta intacta, e nela estar
escarrapachada a fórmula da tintura, preto no branco, melhor dizendo,
branco no castanho:

6 g de iodo
2 gramas de iodeto de potássio
Etanol 70% q.b.p. 100 ml.

Henrique Sousa

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