Simplicíssimo

À MINHA IMAGEM & SEMELHANÇA

Há pouco mais de dois anos, eu conheci um escritor chamado Brennan Manning. Este é seu pseudônimo, não seu nome real.

Na verdade, dizer que o conheci seria impreciso.

Eu não o conheço pessoalmente, é claro; mas leio os seus livros com frequência. Ao todo, cerca de oito, talvez nove, títulos de sua autoria foram publicados no Brasil, principalmente pela Editora Mundo Cristão. 

Manning é ex-padre franciscano, com uma impressionante história de vida. Já viveu em diversos países, sempre com a ideia de servir aos mais necessitados, o que o fez morar em cortiços e favelas. Já passou longas temporadas em retiros solitários, em cavernas e outros lugares desertos. 

Ex-alcóolatra. Ou melhor, um alcóolatra em recuperação. 

Foi casado, mas não é mais. 

E é um escritor maravilhoso. Seus livros são ótimos. 

Meu livro favorito é Confiança Cega; depois, eu recomendaria o já clássico O Evangelho Maltrapilho, A assinatura de Jesus, O Impostor que vive em mim e O anseio furioso de Deus.

Recentemente, foi publicado Convite à solitude, também ótimo.

Em um de seus trabalhos recentemente publicados, Manning critica o fato de que todas as pessoas que crêem em Deus acabam por criar uma imagem Dele, à sua imagem e semelhança. 

Como diria Pascal: "Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. E o homem retribuiu a gentileza".

Ou seja, cada um de nós projeta na imagem que temos de Deus certas características, criando uma nova personalidade do Criador.

Para alguns, Deus é um juiz ranzinza, em busca de nossas menores faltas e desvios.

Para outros, Deus é um Pai castrador. 

Ou ainda, Deus é uma energia cósmica ou, no dizer espírita, por exemplo, a causa de todas as coisas.

Manning encerra o texto pedindo ao leitor que imagine mais uma possível descrição para Deus, segundo suas próprias projeções. 

Pois bem…

Durante um bom tempo, eu pensei em Deus como uma espécie de velhinho bonzinho, que aceitaria todos os meus deslizes e derrapadas, desde que eu rezasse depois da mancada. 

Não importava que eu fizesse a mesma coisa minutos depois. Ou na manhã seguinte, no máximo.

Em poucas palavras, eu era um hipócrita.

E ainda luto contra isso, pois, no fundo, eu quero um Deus que aceite todos os meus pecadinhos e não esteja nem aí para eles, simplesmente porque eu sou muito bacana.

Ou, pelo menos, porque sou inteligente. Ou porque eu oro com frequência.

Mas não é assim que funciona.

Ainda bem que isso me foi ensinado.

Mas a questão é que sempre erramos feio em nossa concepção sobre Deus, a partir do momento em que projetamos na divindade atributos e traços de caráter que achamos que Deus tem. 

Esta ideia não é minha. Ela foi abordada por diversos autores que tratam o tema e, na minha postagem original, citei como exemplo o escritor e palestrante norte-americano Brennan Manning, autor de O Evangelho Maltrapilho

Manning menciona como exemplos de projeções de Deus, as imagens que temos Dele como um Pai Castrador ou de um Juiz. No meu caso, mencionei minha antiga concepção de Deus como o Velhinho Bonzinho.

Mas, pensando a respeito depois de escrever o primeiro texto, me ocorreu uma ideia: essas projeções não precisam ser apenas individuais, não?

As diferentes concepções de Deus também podem ser coletivas, por exemplo, ao mostrar como as pessoas de uma determinada época, ou cultura, ou povo, pensam a respeito do assunto.

Os gregos definiam seus deuses (que enquadramos na tal mitologia) a partir de seus locais ou áreas de influência, entre outros fatores.

Assim, por exemplo, Hades era o deus do mundo subterrâneo, para onde iam os mortos.

Além disso, os deuses gregos e romanos lutavam entre si e eram sujeitos às mesmas paixões que acometem os seres humanos.

É claro que, nos dias de hoje, existem tantas concepções e opiniões a respeito de quem Deus é, ou de como Ele deveria ser quanto existem religiões espalhadas por aí. 

Ou seja, nos dias de hoje – como sempre – não existe apenas uma embalagem de Deus à venda por aí. 

Acho que agora é uma boa hora para um exemplo.

No seriado de TV Supernatural, que vai ao ar no Brasil pelo canal de TV a cabo Warner, os episódios giram em torno de dois personagens principais, os irmãos Dean e Sam Winchester, que, por profissão, atravessam os EUA caçando toda espécie de monstros (vampiros, fantasmas e demônios).

Em uma das mais recentes temporadas, os roteiristas de série resolveram inovar, mostrando que, na verdade, os irmãos estavam destinados desde o início de suas vidas a participarem do Apocalipse, que, como nos diz a concepção cristã do tema, marcará o fim do mundo como o conhecemos depois de uma luta entre o arcanjo Miguel, líder dos exércitos do Céu, e seu oponente, Lúcifer, o anjo rebelde. 

Na tentativa de evitar o Armaggedon, os irmãos contam a com a ajuda de anjos, demônios, deuses pagãos e outras criaturas, que também estão interessados em impedir o fim de todas as coisas. 

E onde fica Deus no meio dessa guerra?

Em Supernatural, Deus está escondido em algum lugar na Terra, e decidiu não se envolver com a guerra travada entre Miguel e Lúcifer. E pouco importa para Ele se o resultado final da batalha será a destruição do planeta e a morte de bilhões de pessoas. 

Em Supernatural, ao contrário da concepção cristã de que Deus é amor (a definição exposta no início do Evangelho de João) e que Ele se importa com as pessoas, temos a ideia de uma divindade aparentemente ausente e indiferente ao destino da Terra.

Além disso, na série, não existe muita diferença na forma em que anjos e demônios são retratados. Ambos os tipos de criaturas são moralmente falhos e capazes de ações monstruosas para conquistarem os seus objetivos. 

E, ainda mais, nem anjos e nem demônios se importam com os seres humanos, que, na maioria das vezes, em Supernatural, são usados como veículos, ou instrumentos, para as ações dessas criaturas na Terra.

Pois bem… Como esse texto já ficou enorme, vamos à conclusão.

A minha hipótese é de que séries de TV como Supernatural, e outras obras de arte ou de entretenimento, ao abordarem "temas espirituais", como Deus, anjos e demônios, por exemplo, nos oferecem exemplos de como a cultura de uma determinada época vê o tema.

Ainda assim, mesmo que sejam exemplos de como as pessoas pensam, essas concepções não passam apenas de ideias, já que, para nós, é impossível conhecer a divindade.

“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. (Primeira carta de Paulo aos Coríntios, Capítulo 13, versículo 12)

Thiago Fuschini

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