Simplicíssimo

O RACISMO NOSSO DE CADA DIA

Aqui, no Brasil, nós não temos de enfrentar o flagelo do racismo. O brasileiro não é racista. Segundo o escritor e humorista Millôr Fernandes, nossa “democracia racial” está fundada no fato de que, aqui, no Brasil, “o negro sabe o seu lugar”.


Infelizmente, isso parece ser verdade. Aqui, o negro parece saber o seu lugar na sociedade – e isso facilita as coisas para essa entidade fantasmagórica chamada “elite branca”.


Uma nota pessoal: eu faço parte da “elite branca” por direito de nascença. Sou branco, heterossexual, com formação superior e de classe média alta. Ainda assim, graças aos meus pais, fui educado para abominar qualquer manifestação de racismo.


Ao mesmo tempo, quando percebo que algum comentário ou atitude de minha parte possam ser vistos como racistas, eu tento corrigir isso.


Acredito que isso se pode falar da maioria das pessoas: muito poucos brasileiros são abertamente racistas. Aqui, entre nós, o preconceito deslavado tem outros alvos preferenciais, como a mulher, o gay, o nordestino e o pobre, por exemplo.


Graças a Deus, não somos racistas, certo?


Entretanto, alguns fatos teimam em contradizer o mito da “democracia racial brasileira”, uma terra mágica, na qual, independente da cor de sua pele, todos os homens (e mulheres) são iguais.


Segundo artigo do jornalista Mino Carta, publicado na revista Carta Capital: “Em 2002, foram assassinados 46% mais negros do que brancos. Em 2008, a porcentagem atingiu 103%. Em outras palavras, para cada três mortos, dois tinham a pele escura. Na Paraíba, morrem 1.083% mais pretos. Em Alagoas, 974%. E, na Bahia dos blocos de Carnaval, 440%.”


Ou seja, aqui, a violência policial atinge preferencialmente negros pobres. Eu, que sou branco e uso óculos, passo incólume por blitzes da Polícia Militar.


Recentemente, no dia 28 de março, o programa CQC, da Rede Bandeirantes, divulgou um comentário do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), no qual respondendo à uma pergunta da “cantora” Preta Gil, no quadro “O Povo quer saber”.

 

Questionado sobre qual seria sua reação se seu filho namorasse uma negra, Bolsonaro soltou a seguinte pérola: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu."

 

No dia seguinte, segundo o UOL Notícias:

 

“Uma representação assinada por 20 deputados do PSOL, PCdoB e PDT foi protocolada na noite desta terça-feira (29), na Mesa Diretora da Câmara, pedindo que a Corregedoria da Casa investigue o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por comentários racistas feitos em programa de televisão, exibido no último dia 28. Caberá agora ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), encaminhar a solicitação à corregedoria.

 

Na mesma representação, os deputados pedem também que Jair Bolsonaro seja destituído pelo seu partido, o PP, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. De acordo com a presidente da comissão, deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS), que também assinou a representação, uma pessoa que não defenda os direitos humanos não deve atuar na comissão voltada para esse fim”.

Mas, graças a Deus, nós não somos racistas, não é mesmo?

Thiago Fuschini

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