Se você sair por aí perguntando sobre o sentido da vida, e não cruzar com nenhum lunático pelo caminho, provavelmente vai ouvir algumas respostas comuns, as quais estamos habituados.
"O sentido da vida é ter uma vida tranquila", responderão alguns.
"O sentido da vida é ter conforto", dirão outros.
"O sentido da vida é ficar rico e não depender de mais ninguém", será a resposta de um ou outro mais sincero.
Em geral, dependendo de cada pessoa, teremos respostas variadas. A tônica geral de todas as respostas que você encontrar por aí, entretanto, será a mesma:
O sentido da vida é buscar, e encontrar, a felicidade.
Sua Santidade, o XIV Dalai Lama, afirmou uma vez sobre o assunto que todas as criaturas, seres humanos e animais, possuem duas características básicas que guiam as suas ações: a primeira, a busca de alegria e felicidade e, a segunda, a tentativa de evitar a dor e o sofrimento.
Assim, de certa forma, a chave da questão seria determinar que coisas (e situações) nos trazem felicidade, e sair por aí atrás delas, certo?
Parece bem simples…
Infelizmente, só parece.
Tenho um amigo que é psicólogo e nós gostamos de irritar um ao outro com discussões sobre temas filosóficos. Esses debates normalmente acontecem no final das tardes de domingo.
Segundo o psicólogo, a tendência geral de todos os seres humanos é atingir um estado médio, geralmente constante, de alegria e contentamento. Algumas vezes, quando algo extraordinário acontece, experimentamos picos de euforia.
Ou de depressão e angústia. Mas a tendência humana, pelo menos no caso de pessoas saudáveis é a de voltar ao equilíbrio anterior.
Muito bem…
Se isso é verdade, a busca por objetos, situações ou simplesmente status é simplesmente inútil, uma vez, que, caso os conquistemos, experimentaremos apenas um estado de alegria passageira…
Logo, o segredo é buscar um estado onde a nossa média de felicidade seja boa. E devemos evitar os picos…
A busca incessante por conquistas, sejam elas quais forem (bens materiais, pessoas ou status), não pode levar à felicidade, uma vez que a "felicidade" não é uma espécie de lugar a que se chega, mas, antes, um lugar onde já se está.
Em resumo, uma vez que o parágrafo anterior ficou um pouco confuso, podemos dizer que a "felicidade" não é um estado que se possa alcançar ao final de algum tipo de jornada ou caminho. Ela, necessariamente, é o ponto de partida.
Ao longo de tempo, antes de nos tornarmos pequenos e nos preocuparmos apenas com carros, com cartões de crédito e com o tamanho de nossa cintura, alguns mestres e pensadores tentaram nos oferecer rotas de atalho para a felicidade.
Em boa parte desses guias e mentores espirituais, encontramos a ideia de que o caminho para a verdadeira felicidade se encontra na auto-renúncia e na auto-doação. Essas linhas de pensamento podem ser encontradas nos ensinamentos de Jesus e de Buda, por exemplo.
"Amai a Deus sobre todas as coisas; e amai ao próximo como a ti mesmo", é a síntese do ensinamento de Jesus, e uma descrição bastante precisa da auto-renúncia.
Segundo essa máxima de Jesus, somente posso amar a mim mesmo (o que, em última análise, significa amar cada pequeno desejo que rasteja no meu coração) depois de realizar duas operações: a primeira, colocar o amor a Deus acima do amor a mim mesmo, ou seja, amar a vontade de Deus antes da minha e, em segundo lugar, elevar o amor ao próximo (todos) a um patamar em que ele se iguale ao meu amor-próprio.
Vejamos…
O exemplo do amor-próprio levado às raias da doença é o tipo de sentimento exercido por aqueles de nós que já tiveram problemas com álcool ou drogas.
Aqueles que já passaram por isso – seja na própria pele – ou ao ver o sofrimento de alguém próximo sabe que o viciado vive um mundo auto-centrado, onde tudo o que importa é conseguir os meios para satisfazer sua fome.
O resto pouco importa.
Jesus não era ingênuo. Ele lidava com as realidades das pessoas que encontrava, exatamente da forma como as encontrava. Ele lidava com pessoas reais.
Ao recomendar que amássemos ao próximo como a nós mesmos, Ele estava recomendando uma progressiva anulação do egoísmo compulsivo que marca a maior parte de nossas atitudes, seja de forma consciente ou insconsciente.
Pois Ele sabia o quanto é difícil vencer as nossas compulsões.
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