Simplicíssimo

Escrever Por Escrever II (excertos)

{04/06/2000 – Domingo – 19:50}

Chega de falar em televisão por enquanto mesmo porque, lendo hoje o que eu escrevi nessa madrugada não fiquei muito contente. Acho que não consegui expressar em minhas palavras o que penso. Já estou sentindo o cheiro de um hambúrguer que minha mãe está fazendo lá na cozinha. Faz cerca de 2 meses que estou morando com minha mãe novamente, depois de 6 anos em que morei sozinho. Agora ela se separou do meu padrasto e então, dei o meu apartamento para ele para podermos ficar com esse apartamento no qual estamos agora, que é bem melhor. PS: daqui a pouco, quando chegar minha janta, vou interromper meus escritos, mas volto logo a seguir…

Acho que não preciso ficar dando essas justificativas… Se for analisar bem, acho que só escrevi aquele “PS” para justificar porque, provavelmente, escrevi/escreverei tão pouca coisa em tão pouco tempo. Não vou mais fazer isso (muito) daqui para a frente. Uma pessoa que admiro bastante hoje em dia é Luís Fernando Veríssimo. É incrível como ele consegue transmitir tanta espirituosidade em suas crônicas, opiniões e colunas – e com tanta inteligência. Acho que ele é, de certa forma uma inspiração para mim. Outra pessoa que esses dias descobri que escreve muito bem seus pensamentos é o Tarso Genro. Em um Zero Hora de outro dia, ele escreveu com muito sentimento sobre um passageiro de ônibus que solicitou ao motorista que parasse o ônibus, desceu e ajudou um velhinho (ou velhinha) que queria atravessar a rua em uma esquina movimentada. Incrível como de uma simples observação corriqueira do dia-a-dia se consiga escrever sobre sentimentos tão profundos como a fraternidade, altruísmo e compaixão.
Por que muitas pessoas são más? Ou melhor: por que tantas pessoas são más intencionalmente? Será que elas leram “A República” de Platão e simpatizaram com as idéias de Trasímaco que dizia que a virtude, a moral era justamente o contrário do que bom-senso o determina? Para ele, o que fazia um homem virtuoso era a esperteza, a fraude, a vitória pela força, pela trapaça, pois só esse tipo de homem realmente se dá bem na vida. Você compartilha dessa forma de pensar? Eu não. Volto a falar mais sobre isso outra hora.
Amanhã vou começar a ler a “Crítica da Razão Pura” de Immanuel Kant pela terceira vez. Dessa vez eu vou até o fim! Além desse livro, também estou lendo “Por que ler os Clássicos” de Ítalo Calvino e “Os Analectos” de Confúcio. Acho que uma coisa interessante que eu poderia fazer era tecer alguns comentários sobre trechos que eu achasse interessante desses livros. Vou fazer isso! Uma coisa interessante em relação a Confúcio é a sua extrema atualidade, sua modernidade. Apesar de ter vivido de 551 a 479 a.C., suas mensagens políticas e humanas são mais do que aplicáveis aos nossos dias. Deixe-me incluir algumas coisas que constatei das leituras dos capítulos 1 a 4 do seu “Os Analectos”:

Montesquieu, no século XVIII, desenvolveu noções que recuperaram o ponto de vista de Confúcio de que um governo de ritos (bom senso, costumes) é preferível a um governo de leis; Montesquieu considerava que um aumento da atividade de promulgação de leis não era um sinal de civilização mas, ao contrário, indica um colapso da moralidade social. É sua a famosa afirmação: “Quand un peuple a de bonnes moeurs, les lois deviennent simples” [Quando um povo tem bons costumes, as leis se tornam simples].

Segundo Confúcio, um rei lidera por seu poder moral {lembrar Thomas Hobbes – contrato social}. Se ele não consegue oferecer um exemplo moral, ele perde o direito à lealdade de seus ministros e à confiança de seu povo. O trunfo último do estado é a confiança do povo em seus dirigentes: quando essa se perde, o país está condenado. Na China, por mais de 2000 anos, existiu o governo dos eruditos, onde o império era dirigido pela elite intelectual, elite essa que tinha acesso ao poder político através de exames do serviço civil, aberto para todos. É interessante notar que esse foi o sistema de governo mais aberto, flexível, justo e sofisticado conhecido na História até hoje.

“O importante não é a pessoa acumular informações técnicas e habilidades especializadas, mas desenvolver sua própria humanidade. Educação não se refere a ter, mas a ser”.

“Guia-o por meio de manobras políticas, contém-no com castigos: o povo se tornará dissimulado e desavergonhado. Guia-o pela virtude, contém-no pelo ritual: ele desenvolverá um senso de vergonha e um senso de participação”

“O membro da elite moral prega apenas o que pratica. Ele considera mais o todo do que as partes. O homem pequeno considera mais as partes do que o todo.”

“Estudar sem pensar é fútil; pensar sem estudar é perigoso”

“O membro da elite moral busca a virtude; o homem pequeno busca terra. O membro da elite moral busca a justiça; o homem pequeno busca vantagens.”

Quando ler mais, comento mais essa e outras obras que nossos governantes e legisladores não leram ou leram e esqueceram… {04/06/2000 – Domingo – 21:26}

Rafael Reinehr

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